Quando, do corpo macerado pelos afagos do tempo, evolam os últimos resquícios de promessas verdes, no recanto mais esconso dos céus nascem nuvens grávidas de dor e lágrimas.
As gaivotas do pensamento, sobressaltadas pela premonição de uma aguda tempestade, guincham maus agoiros enquanto enterram os seus pousos nos grãos de massa cinzenta, como quem procura refúgio em porto seguro.
A chuva empedrada, capaz de romper a macieza do mármore, asfalta a praia da razão com dúvidas e uma película esbranquiçada desregula o raciocínio lógico.
Sem lua nem marés para dominar a intempérie da mente, o eixo do mundo desintegra-se e o corpo fica à deriva, entregue ao capricho da fortuna aleatória.
Resta esperar que alguns raios de lucidez consigam romper a densidade dos cúmulos sujos e iluminar um novo caminho, com menos obstáculos debilitantes.
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