Já perdi a conta às vezes que metaforizei este paradoxo que existe em mim.
Por um lado, sou espírito eremitão, com sede de deserto e vontade de ficar em contínua meditação, abraçar os silêncios mais profundos, sentir a sangue pulsar nas veias, enxergar a passagem de cada segundo e alcançar o máximo de epifanias que o conhecimento possa outorgar.
Noutro prisma, sou o eterno amante do sedentarismo conformista; recluso num tempo que não me pertence, aonde me sinto desenquadrado, sem desejo de mudança – por revolta ou rebeldia – existindo apenas.
Por outro lado, sinto-me um nómada sem endereço certo nem rumo concreto, sedento por encontrar o lugar perfeito para instalar esta carcaça envelhecida e criar um entreposto de isolamento premeditado. Sou um beduíno, sempre irrequieto, em busca de um espaço para assentar arraiais, longe deste outro espaço que me restringe, aprisiona e bestializa.
Depois, enquanto me debato com esta triplicidade esquizofrénica, olho em redor e vejo inúmeras caravanas de camelos que circulam nos mesmos desertos que eu, com a diferença a residir nos holofotes que os acompanham. Então multiplica-se a necessidade visceral de metaforizar este labirinto temporal aonde me sinto enclausurado e de onde tenho ânsias de libertar-me.
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