terça-feira, 27 de outubro de 2009

Invisível

Aos teus olhos sou mar revolto
sem maré que me guie
sem lua que me conduza.
Vês-me como brisa de tempestade
furacão sem ferocidade
sou natureza obtusa.
Sentes-me como sopro solar
em noite de lua encoberta
sou escuridão com brilho próprio.
Ouves-me como silêncio atroz
ave canora sem timbre
mutismo por ti infligido.
Nas tuas mãos sou pedaço de nada
matéria inorgânica
sou menos que pó.
Caminhas sobre meu corpo persa
qual rainha em seu domínio
pisando um vassalo insignificante.
Ignoras a alma que me habita
és ceifeira do meu sentimento
para mal dos meus pecados
continuo invisível.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Branqueamento

Podes dizer que estás de cara lavada
e essa possibilidade existe
logo
tenho de acreditar nas tuas palavras.
Podes jurar que és um ser renovado
e essa hipótese não ponho de lado
porque sei
por experiência própria
que a renovação da pessoa é possível.
Podes gritar ao mundo
que teu coração deixou de ser duro
e eu abono o teu grito
porque conheço corações amolecidos
pelos sentimentos.
Podes exaltar o nascimento de uma vida nova
e eu aplaudo o teu aperfeiçoamento.
Mas não me queiras impingir
essa mentira deslavada
que tens a alma pura
porque para branquear a alma
ainda não existe dentífrico

sábado, 17 de outubro de 2009

A minha forma de amar

Amo com toda a força do meu ser
amo no momento e em toda a vida.
Amo no passado, no presente, no futuro
amo no início e no fim.
Amo na tristeza e alegria
na verdade e na mentira.
Amo no branco, no preto, no cinzento
amo colorido e incolor.
Amo opaco, baço, inodoro
amo na audição e no mutismo.
Amo na presença, na distância
no aconchego e na ausência.
Amo nas horas, minutos e segundos
dias, semanas, meses e anos
amo no nunca e na eternidade.
Amo no sim , amo no não
amo também no talvez
na dúvida e na certeza
na utopia e no dogma
amo em alfa e em ómega
analfabeto e erudito.
Amo na escassez e na abundância
amo muito com pouco
amo tudo com nada.
Amo pelo simples facto de amar.
Mas o meu amor não é correspondido
porque talvez
não se deva amar assim.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Como no primeiro dia

É teu este coração rasgado
que o tempo não cicatriza.
É tua esta alma penada
que no meu corpo se refugia.
Estão em ti os meus pensamentos
dolorosas lembranças de nada.
A tua imagem é tudo o que me resta.
Esse último sorriso
ingénuo de tristeza
que na despedida me enviaste
definha ao ritmo das minhas pulsações.
Esse último olhar
que em mim pousaste
esvai-se como suspiros.
O teu níveo rosto
que, tarde na vida, aprendi a amar
esbate-se da minha memória.
Mesmo assim
não consigo deixar de te amar
como no primeiro dia.

domingo, 11 de outubro de 2009

Reunidos no Olimpo

Não posso provar o que digo
mas eis a verdade suprema
o meu destino foi decidido no Olimpo.
Em reunião magna convocada por Zeus
compareceram todos os outros Deuses
desde Apolo a Zéfiro
de Afrodite (Vénus) a Baco (Dioniso)
Ártemis (Diana) e Hermes (Mercúrio)
Eros e Neptuno (Posídon)
Vulcano (Hefestos) e Marte (Ares).
Todos deram a sua opinião
expuseram os seus argumentos
e decidiram como seria a minha vida.
Mas não houve consenso
Deuses houve que se sentiram feridos no orgulho
e acharam que me estavam a dar demasiada importância.
Eu, simples mortal, filho de um Deus menor
avaliado pelos Deuses supremos?
Heresia maior não pode existir
os Deuses têm mais com que se preocuparem.
Então, desde esse dia glorioso
em que meu nome foi falado no Olimpo
tenho vivido num oceano de situações
umas vezes em paz e sossego
outras em constante tormenta.
Tudo por culpa de alguns Deuses
que guiados por Hera
não gostaram que alguém como eu
filho de um Deus menor
fosse protegido do Olimpo.
Vivo pelos caprichos dos Deuses.

sábado, 10 de outubro de 2009

Em bandeja de prata

O amor foi-me servido em bandeja de prata
mas eu era o "garçon" de serviço
e apenas me foi permitido vê-lo sem tocar.
O prato estava bem composto
cheio de requinte, sem ostentação
muita cor e alegria, saudável
delícia de "gourmet"
como se quer num "buffet".
Mas eu apenas o olhei.
Ninguém me disse para o provar
não sabia que podia fazê-lo
e quando descobri o gosto desse amor
era tarde
já alguém o tinha saboreado
e apoderara-se dele.
Resta-me a lembrança
de um dia me terem servido o amor
numa bandeja de prata.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Cúpido

Um cúpido de fraca visão
alvejou-me negligente
e dez anos passados
o veneno da sua flecha
ainda circula no meu sangue.
Um cúpido de má índole
tentou remediar o seu erro
acometendo-me de cobardia
calando a minha voz
impedido-me de expressar
a natureza do amor injectado.
Um cúpido inábil
não satisfeito com o duplo erro
e não tendo antídoto para o veneno
procurou minimizar a incompetência
com o acumular de desacertos
e a minha vida encheu-se de nevoeiro.
Deixei de ser humano como os demais
passei a ser uma cobaia
nas mãos do cúpido.

domingo, 4 de outubro de 2009

Poemas de amor

Carrego nos meus ombros
o peso da poesia que te escrevi
e a cada passo que dou
sinto-me vergar.
Os poemas de outrora
não perderam validade
mas tornaram-se
fardos demasiado pesados
e estou a perder as forças.
Nas palavras que te dei
nos versos que te dediquei
ofereci-te amor e paixão
e comigo ficou a dor
e o sofrimento.
Isto que agora digo
não é um queixume
é uma constatação
um lavar de alma
um expurgar de solidão
que meus poemas me deram
e te ocultaram.
Sim sofro!
Mas na sombra da poesia
esconderei a dor
e continuarei a escrever-te
poemas de amor.

sábado, 3 de outubro de 2009

Metamorfose

Vagueio num bosque de imaginação
caminho trilhos de criatividade
perco-me nas lonjuras da poesia.
Sinto o doce cheiro de um verso
suave fragrância de um poema
deixo-me envolver e perfumar.
A beleza das palavras desfila diante de mim
uma miríade de cores invade-me o olhar
frases com sentidos brilhantes
ofuscam a minha visão enternecida.
Misturo-me com as palavras
e eu próprio sou um verso
elemento de um poema sentido.
Transfiguro-me em poesia
mascaro-me de poeta.