quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Lusofonia de um poema - EMANUEL LOMELINO E WASIL SACHARUK


As minhas palavras de Fado
gostam de cantar continentes
e dançar carnavais de funaná.
As minhas palavras de bacalhau
têm fome de cachupa e funje
e sede de água de côco.
As minhas palavras de Tejo
navegam pelo Amazonas
e banham-se no Zambeze.
Quem as quiser encontrar
tem de ter na mão um planisfério
e descobrir onde fica Lusofonia
 
Digo alguns versos de samba
às ruas de Trás-os-Montes
com os Pauliteiros de Miranda.
Digo alguns versos de feijoada
com um tanto de óleo de palma
e uma garrafa de vinho do Dão.
Digo versos de pedra da Mina
que ecoam na Montanha do Pico
e são ouvidos no alto do Binga.
E quem os quiser escutar
tem que sucumbir aos mistérios
e às belezas da Língua Portuguesa.

É para mim uma honra ter recebido o convite do poeta WASIL SACHARUK para este dueto/parceria e ver as nossas palavras darem este abraço lusófono! 

PEDI - JESSICA NEVES E EMANUEL LOMELINO


Pedi à Lua que me oferecesse um sorriso
tão brilhante como o dia
e ela sorriu!
Pedi ao Vento um meigo e terno beijo
suave como a brisa à beira-rio
e ele beijou!
Pedi ao Mar que me lavasse as lágrimas
levando-as na maré cheia
e ele chorou comigo!
 
Pedi à noite acesa
Que hoje me deixasse ser ave
Que afastasse toda a tristeza
E me desse o teu rosto suave...
 
Pedi-lhe teus lábios de sal
E o aconchego do teu abraço
Só eles levam todo o mal
Quando repouso no teu regaço...

Pedi ao mundo
Que te deixasse ficar em mim
Um só segundo
Que fosse, sem olhar ao fim...

Podem visitar a Jessica em http://sempapelecanetacomalmaecoracao.blogspot.com/

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

UM OLHAR - RITA FARIAS E EMANUEL LOMELINO

Os olhos são portas abertas
por onde a curiosidade passa
de mãos dadas com o querer  
em busca de conhecimento.
Os olhos são janelas da alma
onde a luz da sabedoria
ilumina o estro dos poetas
na demanda dos verbos.
Um olhar são muitas palavras!
É expressão viva a falar
sem nada declamar
é paisagem de pintor
que cobre de tinta a tela
é tema a escritor
que redige em papel.
Um olhar é peça miniatura
que agiganta em clímax
causando pasmo aos demais.
Um olhar é cor e brilho
é rir e chorar
é quente e frio
mas jamais vazio !

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

FERNANDO PESSOA

Perante ti grã poeta criador de mitos
a teus aprendizes jamais me comparo
meus versos nascem e vivem aflitos
como fossem, dos Deuses, malditos
dizendo ao mundo como sou ignaro.
 
Diante ti ó glorioso e supremo vate
grande senhor dessa lírica heterónima
na poesia tua voz é arma de combate
e sobre nossos frágeis ombros s’abate
nossos poemas são prosápia anónima.
 
Perante o teu génio, respeitoso asceta
muitos se curvaram, eu sou mais um
tua verve é mero vaticínio de profeta
muito mais que inspiração dum poeta
igual a ti, no mundo, não há nenhum.
 
Diante ti meu mestre da portugalidade
sei qu'este vil estro é simples e tacanho
legaste a nós lusitanos uma identidade
p'la pátria louvaste a tua nacionalidade
és filho-mor duma nação sem tamanho.

Poema extraído do meu mais recente livro POETAS QUE SOU - Lua de Marfim - 2013

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Mesma tecla (inédito)

Hoje acordei envolto numa tristeza tão grande
que desconfio não existir poema algum
que a possa descrever detalhadamente.
Sinto-me como uma guitarra sem cordas
e por mais que dedale não se ouve um som.
Hoje acordei como um fado melancólico
e não há varina nem calceteiro que me valham.
Mais triste ainda é querer mudar o estado das coisas
e não encontrar as palavras certas,
aquelas que estão entre a lassidão e o ócio
e que poderiam evitar este desconforto
de estar constantemente a carregar na mesma teclaaaaaaaa.

sábado, 16 de fevereiro de 2013

Rádio (2012)


Numa sociedade cuja maioria era iletrada
só uns poucos tinham acesso à informação
quem sabia ler, lia sobre tudo e sobre nada
analfabetos nada tinham à sua disposição.
Quem tinha os conhecimentos a seu favor
já ouvira falar em comunicações sem fios
mas quem só conhecia a arte do seu labor
achava essas modernices meros desvarios.  
 
No início, telefonia era um luxo tremendo
tal privilégio cabia em sorte aos abastados
após experiências o conceito foi crescendo
e aos poucos aumentaram os privilegiados.
Grande foi a surpresa, está bom de se ver
quando a rádio começou as suas emissões
o povo ganhou ânimo e mais algum saber
uma novidade traz sempre novas emoções.
 
Ficou mais fácil saber o que ía no mundo
noticias chegavam com mais actualidade
mudavam frequentemente a cada segundo
mesmo as que sofriam censura de verdade.
Com o tempo, ouvir rádio era imperativo
as familias reuniam-se à volta do aparelho
qualquer programa era apenas um motivo
para entreter o mais novo e o mais velho.
 
Escutavam-se folhetins, novelas e o fado
com o mesmo entusiasmo, tudo se ouvia
aos poucos este fenómeno ficou instalado
possuir um rádio já todo o mundo queria.  
Muito antes de aparecer a caixinha mágica
e ver imagens não passava de pura ilusão
para se distrair da vida rude, dura e trágica
o povo apenas desfrutava da rádiodifusão.
 
A influência das rádios chamou a atenção
do poder político, na época uma ditadura
e a melhor forma de formatar a população
foi encontrada na aplicação da vil censura.
Perante as restrições que o estado impunha
ouvia-se só o que deixavam, oh triste sina!
Mas mesmo assim havia quem se dispunha
escutar a rádio em transmissão clandestina.
 
Aquele que com ferro mata, com ele morre
diz o adágio com razão e assim aconteceu
meio essencial é a definição que me ocorre
para rádio, quando a revolução prevaleceu.
Foi o som de poesia cantada e famosa senha
que iniciou a revolta que pôs fim à ditadura
o estado novo queimou-se na própria lenha
ateada pela telefonia que ainda hoje perdura.
 
O tempo que passa deixa sua marca, história
e os homens nunca mais vão poder esquecer
que a radiofonia merece ser coroada de glória
pela importância que teve e continuará a ter.
Para quem duvida da rádio e do seu sucesso
para quem pensa que longevidade é ilusória
deixo meros fragmentos dum longo processo
assim ficam registados pedaços de memória.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Amor viciante (inédito)

O amor é universal, isso não nego
A qualquer instante pode aparecer
O mundo sabe e todos podem ver
Que o amor não tem olhos, é cego
 
O amor é poderoso, resiste a tudo
Mesmo ao silêncio calado e atroz
O amor não fala, jamais teve voz
Sente-se mais o amor sendo mudo
 
Cego, mudo e manco, eis o amor
Na sua mais perfeita deficiência
Todos o querem, mesmo aleijado
 
Sentimento mau, sinónimo de dor
Como uma droga cria dependência
D’amor continua o mundo viciado

sábado, 9 de fevereiro de 2013

No silêncio das estrelas (inédito)

No silêncio que as estrelas proporcionam
encontrei, abertas, as portas do pensamento.
Deixei, ingenuamente, que a ilusão caminhasse
sem conseguir travar os seus passos.
Fui escravo da sua vontade.
Agrilhoado pela falta de realismo
fui transportado pela esperança vã
de, algures pelo caminho, te encontrar
e finalmente poder dizer
todas as palavras que me queimam o peito.
Queria, uma vez na vida, ser audaz
gritar, a plenos pulmões, a dor da alma
e assim secar a fantasia destas lágrimas
que, mortas à nascença, eu não soube chorar.
Queria, pelo menos uma vez,
dizer bem alto que sou teu prisioneiro
e que sonho a chegada do momento
em que, de olhos bem abertos,
saberei como te oferecer
a suprema prova de amor.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

O caminho c/ Nuno de Freitas


Se soubesses acreditar
Que a vida tem um sentido
Terias mais vontade de procurar
O teu caminho que está perdido
 
Não vivas nessa descrença
E mantém um pouco de fé
Um passo faz toda a diferença
Caminhando pelo nosso pé
 
Se fosses capaz de olhar
Para o fundo deste mar
Irias perceber
Tudo o que quero dizer
 
Não te julgues incapaz
Faz-te à estrada, sê audaz
Com as quedas não te importes
Elas fazem-nos mais fortes
 
Do lado de lá do infinito
Depois dos campos de linho
Desenhei o teu caminho
Esculpido em pedras de granito
 
Mesmo em trilhos duros
Obstáculos não são embaraço
Acredita que passo a passo
Vais dando passos mais seguros
 
Só tens de ter coragem
De agarrar a tua inoperância
Fixares os olhos na miragem
E não ligares à distância
 
Afinal o mundo é minúsculo
Cabe dentro da tua mão
E só verás o crepúsculo
Se atravessares a escuridão
 
Passo por passo vais seguir
Reforçando o teu querer
O teu caminho vais acabar por descobrir
E as nuvens vão desvanecer
 
Caminha sem nunca desistir
Não pares, busca a glória
Não há sabor mais doce de sentir
Que o gosto suave da vitória
 
Por fim com determinação
E um pouco de impulsividade
Ainda encontrarás o meu coração
Onde viverás em liberdade
 
E quando a caminhada terminar
Outro percurso vais querer
Sabes que tens tudo a ganhar
E não nasceste para perder

Este poema foi retirado do meu livro LICENÇA POÉTICA [duetos lomelinos] - Lua de Marfim - 2011

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Instante c/ Ana Lopes


Por um instante transformei o teu corpo em diamante
gelei os meus olhos nessa pedra brilhante
a minha boca ficou presa à tua.
 
Por um instante os nossos lábios humedeceram
as maçãs do meu rosto enrubesceram.
Por um instante eu combati o tédio
o teu corpo foi o meu remédio.
 
Por um instante, vi as pessoas a passar
vi-nos lá longe, na ponte, a olhar!
 
Por um instante o meu sonho encontrou um fundo
eu e tu, longe do mundo!
Para a eternidade, tu e eu, a dormir o sono profundo!
 
Por um instante fiz de ti a minha realidade
entreguei-me à serenidade
flutuei nesses teus braços.
 
Por um instante ficámos unidos por esta paixão
descobri o que significa união
desliguei a minha memória
desfrutei um momento de glória.
 
Por um instante transportei-me para fora de mim
desejei ficar sempre assim.
 
Por um instante tive a certeza de ser capaz
esqueci tudo, senti paz
Para a eternidade quero este instante que me satisfaz

Poema retirado do meu livro LICENÇA POÉTICA [duetos lomelinos] - Lua de Marfim - 2011

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Meu mar c/ Lita Lisboa


Na escuridão da noite
oiço um apelo.
Escuto o murmúrio das águas
que segredam às fráguas
mil e um prantos
outras tantas mágoas.
Aproximo-me sem medos
do mar escuto os segredos
que de mim já não esconde
porque precisa partilhar.
E desabafando, o mar se acalma
pouco a pouco fica sereno
e neste diálogo ameno
descubro que tem alma. 
 
O mar chama por mim
não o rejeito.
Tal como a lua
que lá do alto se insinua
e se deixa envolver
pela nuvem que flutua.
Assim me envolve o mar
com que me deixo embriagar
como se fosse uma taça
onde o vinho saltitasse em espuma.
Adoro o mar, com ele perco o juízo!
E nessa flutuante sensação
entro nas ondas com a ilusão
de que estou a entrar no paraíso.

Poema retirado do meu livro LICENÇA POÉTICA [duetos lomelinos] - Lua de Marfim - 2011