domingo, 14 de abril de 2024

Diário do absurdo e aleatório 268 - Emanuel Lomelino

Sempre afirmei que o tempo, aonde existo, nunca me pertenceu. O desenquadramento tem-se avolumado com os anos e o acerto desta percepção tem-se entranhado em mim como uma tatuagem interna que me enfraquece, tal qual uma hemorragia crescente.

A cada tique-taque da minha existência, cai-me sobre os ombros o desfasamento entre o que vivo e o que me foi negado pelos mínimos caprichos de um qualquer deus menor, para seu deleite e minha inevitável sina, como fosse um brinquedo nas mãos de uma criança.

Reconhecer esta condicionante tem-me obrigado a reformular constantemente as minhas prioridades, ao ponto de ter prescindido de algumas convicções, em vez de substituí-las por outras mais adequadas a este tempo e à consciência que tenho dele.

Por não haver retorno, ou segunda chance, quero acreditar que o erro supremo foi concretizado na montagem e que algures, noutro espaço temporal paralelo, está alguém tão desenraizado como eu aqui.

Sem comentários:

Enviar um comentário