quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Feliz ano novo

Fecha-se um ano cansado
Entra um novinho em folha
Lamentamos o ano passado
Inquirimos a nossa escolha
Zelamos p'lo futuro melhorado

Ansiamos o ano que lá vem
Nova é a nossa esperança
O medo do futuro não convém

Novo ciclo que se apresenta
Outra oportunidade de raiz
Veremos se a sorte aumenta
O mundo merece ser feliz

A todos os que por aqui têm passado e deixado os seus comentários, desejo um ano cheio de AMOR, PAZ, SAÚDE e muita POESIA para alegrar o espírito.

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Soneto do imigrante

Com suas trouxas numa mala de mão
a saudade estampada no peito
busca ser feliz, tem esse direito
parte para bem longe com ilusão

Noutro solo a fala é confusão
tenta entender-se de qualquer jeito
mas estando no conforto do leito
chora amargamente de solidão

Trabalha numa terra estrangeira
de Sol a Sol vai fazendo p'la vida
respirando o ar da estrumeira

A pensar na sua família querida
luta com muita garra costumeira
vida de imigrante é sofrida

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Thank you for reading my poetry

Não sei se valho toda esta atenção
alguém me lê desde outra nação
assiste à poesia que aqui escrevo
sabê-lo, gerou em mim admiração
então logo pensei: E por que não?
dedicar este poema eu me atrevo

Não sei quem é, será poeta talvez
pode até ser imigrante português
que nas Américas arrisca a sorte
tu que desde o Arkansas me lês
comenta-me pelo menos uma vez
diz-me se és do sul ou do norte

Obrigado pela constante presença
só a passagem já faz a diferença
volta mais vezes, habitual freguês
esta poesia de hoje dedico-a a ti
thank you for reading my poetry
e comenta-me, perde essa timidez

domingo, 27 de dezembro de 2009

Nossas almas - c/ Célia Modesto

Nossas almas não reconhecem
o Oceano que nos separa
estão ligadas por laços
de amor e amizade

Se conhecem, se reparam, se comunicam
na linguagem do coração
através dos versos que fazemos

Somos muito parecidos
na maneira de pensar
sentimos as mesmas dores
sofremos por nossos amores
e buscamos pela felicidade
sem sabermos ainda
onde ela está

Tua alma encontrou a minha
minha alma encontrou a tua
e não vão mais se separar.

Dois espíritos libertos
de alma solta e arredia
descomplexados e leais
com uma paixão em comum

Deixam de lado inibições
libertam o génio da criatividade
para apagar as amarguras do coração

Apesar da distância fisica
o mesmo modo de ver o mundo
sofrimentos paralelos
solidariedade nas palavras
as mesmas ânsias e temores
desejos de felicidade
que ambos merecemos

Nossas almas são poetas.
Que o tempo não separe
o que a poesia juntou

Este poema é uma parceria com a minha amiga Célia Modesto cuja poesia tem um grau de sentimentalismo que muito me agrada. Quem ainda não conhece esta especialista em HAIKAI pode seguir este link

sábado, 26 de dezembro de 2009

Voz da amizade

Escuto a voz que o vento traz
oiço o cantar da bela cotovia
chilrear meigo, com melodia
que aos ouvidos muito apraz

Distingui-la ainda sou capaz
oiço com a alma em euforia
chilreios prenhes de alegria
que os meus ouvidos satisfaz

São sussurros de uma amizade
vêm do outro lado do mundo
nas asas d'um afecto inocente

Acirram esta minha felicidade
atingem-me o íntimo profundo
coroam meu coração diligente

Quero dedicar este soneto à minha querida amiga Maria Bózoli que tanto me tem acarinhado desde a minha chegada ao blogspot. Para você um beijo do tamanho do Oceano que nos separa



quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Carta ao Pai Natal

Mais uma vez te escrevo, Pai Natal
tu tens uma cunha no céu celestial
nada peço que não possas conceder
como sempre, apenas rogo alegria
paz, amor e fraternidade a cada dia
e saúde para continuarmos a viver

Sei que os meus pedidos são pesados
e tu tens esses teus braços cansados
mas vê lá o que podes fazer por nós
não exijo aqueles presentes materiais
sabes que esses não me são essenciais
como não foram para os meus avós

Sei que vais tentar oferecer-me isso
mas não assumas já o compromisso
talvez esteja a pedir-te em demasia
como alternativa, então eu te peço
que não carregues pesos em excesso
dá-me apenas dois livros de poesia

Desejo a todos os amigos e amigas que por aqui têm passado e comentado, um santo e feliz Natal com os melhores presentes de todos; AMOR, PAZ, FRATERNIDADE e muita SAÚDE.


segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Neste mundo

Neste mundo virado ao contrário
já ninguém consegue ser solidário
temo mesmo que ninguém quer ser
cada um trilha o seu rumo solitário
com os pensamentos no numerário
objectivo comum, apenas enriquecer


Neste mundo sem frente nem avesso
o homem é um ser ignóbil e travesso
solidariedade só se for sem querer
todos exigem porque: -Eu mereço!
por esta vontade, tudo tem um preço
hoje apenas o dinheiro exerce poder


Neste mundo só o dinheiro é realce
em sã consciência digam-me lá se
não é novidade o que estou a dizer
nem existe quem negue ou disfarce
se hoje este vil metal não mandasse
poucos seriam os que saberiam viver

domingo, 20 de dezembro de 2009

Soneto erótico

Desde que nenhum deles se imponha
um relacionamento é pura diversão
haja criatividade no acto de paixão
quer ela nele, quer ele nela se ponha

Ninguém nega um desejo que sonha
todos querem viver a perfeita relação
onde possam perder toda a inibição
e de corpo nu perder toda a vergonha

Contorcionismo, corpos entrelaçados
abraços e carícias, toques desinibidos
frenesim em acto de absoluta magia

Kamasutra explorado, corpos suados
violência de odores e bravios gemidos
sexo descomplexado, virtuosa poesia

sábado, 19 de dezembro de 2009

Poetisa paixão - c/ Breizh da Viken

Tu, poetisa de excelso sentimento
transformas palavras em sedução
lubrificas as mentes enferrujadas
com a tua poesia de sensualidade
sem barreiras nem tabus.
Teus poemas são toques de pele
frémitos de vontade e desejo
elixir de ânsias reprimidas
sussurros gritados com alma.
A tua poesia é ensejo do sentir
aclamação de sonhos urgentes
confidências de vozes silenciosas.
Tuas palavras são paixão voraz
fome de intimidade feroz
no conforto do leito da inspiração.
Tu poetisa... és grande.
Gosto de foliar com as palavras
delas componho conversas, divago
nelas construo sonhos, navego.
Sou epicentro de terramotos linguísticos.
Anseio conceber vulcões literários
gosto do toque da emoção... dos arrepios de ler.
Desnudo-me nas letras dos meus escritos
anseio por dar vida aos poemas, um coração.
Escrevo poemas... dou-lhes pulsação
sou na poesia... paixão.

Este poema é uma parceria com a minha amiga Breizh, uma tremenda poetisa cujos poemas encantam pela beleza, pela originalidade e talento.
Quem ainda não a conhece pode visitá-la seguindo este link

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Procuro

Procuro nas palavras amarrotadas
a significância de pequenos nadas
que povoam a minha insanidade
quero as minhas acções explicadas
nas palavras que foram rasuradas
nas entrelinhas busco uma verdade

Junto pedaços de páginas rasgadas
leio palavras ufanas e desgraçadas
que me ocultam a bendita felicidade
esquadrinho as poesias abençoadas
tentando aprender origens sagradas
e libertar-me desta hostil orfandade

Ajeito poemas com letras plagiadas
alinho ideias há muito desalinhadas
sem lhes obter a melhor visibilidade
escrevo com tintas foscas, desbotadas
frases incoerentes, apenas embaçadas
faço-o por mero prazer e necessidade

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Aprendiz de poeta

A poesia corre em mim como um rio
e eu navego agarrado às suas crinas
fazer poemas protege-me deste frio
e o calor que emana, não o imaginas

Tento fazer o melhor com algum brio
és tu Sol que me aqueces e iluminas
és perpetuo na minha escrita de estio
e tu Lua por que razão me incriminas

Faço da poesia um lugar de salvação
onde encontro a paz em porto seguro
tentando afastar de mim esta solidão

Não sei o que posso esperar do futuro
logo aguento os pés assentes no chão
sei que sou aprendiz de poeta imaturo

domingo, 13 de dezembro de 2009

Fotografia

Sempre esquivei de ser fotografado
para a posterioridade ficar gravado
a minha imagem tentei preservar
evitei ser mero boneco em película
com receio de fazer figura ridícula
só aparecia se não pudesse evitar

Com o tempo deixei de me esconder
que mal traz ao mundo se aparecer?
que importância tem uma fotografia?
é apenas a imagem daquilo que sou
sei de retratos que alguém fotografou
e entre outros, eu também aparecia

Eis que aparecem fotos de um evento
houve quem eternizasse esse momento
lá apareço eu mesmo sendo figurante
apanhado numa conversa agradável
vejo-me com um ar muito saudável
mesmo secundário pareço importante

E essas fotos trazem boas recordações
encontro de amigos, grandes emoções
muita conversa alegre sobre poesia
momentos que ficarão para a história
e eternamente guardarei na memória
sem precisar de voltar a ver a fotografia

sábado, 12 de dezembro de 2009

Vontades dos Deuses

Se os Deuses me permitissem a ousadia
daria ao mundo um poema derradeiro
encerrava nele toda a beleza da poesia
e a mensagem correria o mundo inteiro

Se os Deuses me deixassem ser poeta
escreveria mil versos de eterna paixão
comporia um longo discurso de profeta
que o mundo declamaria como oração

Se os Deuses estivessem do meu lado
e soprassem os versos que mais amo
os meus poemas seriam o meu legado

Se os Deuses preferissem um aprendiz
de mim sairiam os poemas que clamo
e o mundo só poderia mesmo ser feliz

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Minha génese

Foste, és e serás sempre a minha paixão
mulher guerreira, em vias de extinção
nunca na vida conheci ninguém igual
és a génese de tudo o que agora sou
foste a mestra que sempre me ensinou
contigo aprendi a ser alguém especial

Foram muitas as agruras que a vida deu
não cedeste, teu ânimo não esmoreceu
ainda hoje vais à luta, não viras a cara
nunca vi no teu rosto sinal de teres medo
se algum dia tiveste, guardaste segredo
és tenaz, lutadora e todo o mundo repara

Jamais ouvi da tua boca um queixume
és combustão, labareda de outro lume
sempre pronta para a tristeza combater
com esse olhar cheio de determinação
estiveste sempre disposta a dar a mão
és amor, que melhor mãe poderia eu ter

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Poema de amigo

Como me orgulho de gritar ao mundo
o que meu coração sente e a alma exalta
faço compasso de espera e respiro fundo
tendo-te por amigo, nada mais me faz falta

Sou feliz desde a hora em que te conheci
sou mais rico pela tua constante presença
em ti, algo de maravilhoso, eu descobri
esse teu modo singular marca a diferença

Sei que posso contar contigo na desgraça
a reciprocidade também existe deste lado
nem só nas horas boas foste comparsa
também estiveste no instante complicado

Em teus braços encontro porto de abrigo
dás-me a necessária segurança de aço
estou abençoado por te ter como amigo
e desta linda amizade eu não me desfaço

Ainda que na segunda pessoa eu insista
este poema não é para ninguém particular
a quem servir esta pele, então que a vista
o poema é para quem assim se identificar

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Guerreira

Quando chegares ao fim da tua cruzada
faz por pensar em mim e em mais nada
imagina o meu sorriso pelo teu sucesso
afasta de ti tudo o que te deixa magoada
protege bem a vida que te foi destinada
vive um dia de cada vez, sem excesso

Quando te sentires sozinha ou desertada
não tenhas pena, não foste abandonada
tens amigos no mundo que zelam por ti
pensa que neste instante és uma felizarda
por estares, profissionalmente, realizada
diz em voz alta: Foi por isto que me bati!

E se a saudade aparecer de madrugada
fecha-lhe a porta, recusa-lhe a entrada
medita nos bons momentos da tua vida
verás que esta fase nem é complicada
para os obstáculos, estás bem preparada
e eu sei que és uma guerreira destemida

sábado, 5 de dezembro de 2009

Mulher coragem

Rituais penosos que revoltam
os gritos mudos que se soltam
ai! Este silêncio ensurdecedor
sonhos de felicidade roubados
princípios morais adulterados
sem vergonha do perpetuador

Sentimentos apenas explicados
por quem viveu maus bocados
sem ombro qu'aceite a verdade
medos que só os medos exortam
medos gastos que ainda voltam
provocando medos de ansiedade

Palavras nefastas que degolam
são como fogo lento e imolam
pura vileza, acto de sabotagem
medos eternos à alma colados
numa voz sem medo, revelados
grito d'alerta, mulher coragem


Este poema é dedicado à escritora ANTÓNIA SERAFIM, uma mulher coragem.

sábado, 28 de novembro de 2009

Estações da vida

O solstício da minha vida
passou por mim
como uma sombra fugidia.
Ocultou-se anónimo
nos becos e vielas mais escuros
longe do meu olhar
faminto de luminosidade.
O meu Verão
teve temperaturas amenas
e brisas frescas
tornando insignificantes
todos os meus mergulhos
no Oceano dos sentimentos.
Agora vivo no equinócio
embrulhado numa coberta de solidão
que não afasta o frio.
Neste meu Outono precoce
vejo impotente
a queda das folhas caducas do amor
e vivo na saudade
de um tempo que não vivi.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Contra imposições

Fui pintado
com cores que não são minhas
o meu brilho foi adulterado.
Fosse eu outro
e ter-me-ia ofuscado
na minha própria luz.
Coloriram-me cintilante
numa luminosidade atroz
que não me convém.
Os tons de que me visto
são do meu catálogo particular.
Tintas fabricadas por mim
que só em mim caem bem.
Acalentaram em mim
um incêndio que desconheço
com lenha bravia
ceifada de bosques inóspitos.
O lume que de mim irradia
tem calor próprio
é puro e natural.
A chama soprada do meu interior
provém da fogueira que ateei
e o fogo que sai de mim
só eu o posso alimentar
ou extinguir.
Cristalizaram a fonte
de onde jorra a minha seiva
e deram-lhe a pureza que não tem.
Incentivaram novas correntes e marés
ao sabor de tempestades que não são minhas.
O sangue que me corre nas veias
flui ao ritmo da minha vida
na cadência que melhor me serve
em harmonia com o meu sentir.
Por mais ondas de cores quentes
que queiram impor no meu oceano
só eu tenho acesso à torneira
que rega o meu Ser.
Por mais vagas de claridade
que queiram impingir no meu mundo
só eu consigo ligar
o interruptor que me dá luz.
Por mais labaredas vivas
que me tentem acender
só eu posso inflamar
a salamandra que me aquece.

domingo, 22 de novembro de 2009

Ad eternum

Para mim é bem claro
tão nítido como água cristalina
que o momento mais feliz da minha vida
foi também o mais triste e desolador.
Ambiguidade com alguma coerência
esta que se afigura inexplicável
mas tão real como o sofrimento.
Na felicidade de uma certeza
a rigidez da inevitabilidade
de uma dolorosa separação.
Na convicção de um amor
a desilusão de um mutismo.
Na crença de um sentimento
uma aceitação silenciosa
anulada pela caducidade temporal.
Mea culpa ad eternum.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Nesse dia

Num dia como tantos outros
de céu limpo e Sol brilhante
acampei o meu corpo
junto às margens do lago.
Nesse dia igual a tantos
acostado a uma rocha
embrenhei-me na leitura
de um livro esquecido.
Folheei cada página
com entusiasmo de criança
numa entrega incondicional.
Apenas me servi da visão
desliguei os demais sentidos.
Sem som que me distraísse
ou cheiro que me cativasse
sem sensibilidade no toque
e entregue ao mutismo
vi as maravilhas da palavra
com estes olhos predadores.
Nesse dia sem paralelo
alheado do mundo
repeli os sentimentos
afastei de mim o Ser pensante.
Nesse dia fui feliz.

domingo, 15 de novembro de 2009

Tábua de salvação

Na poesia procuro o consolo
que o destino me nega
por obstinação.
Na poesia tento encontrar
a paz de espírito
que de outra forma
seria difícil de achar.
Nos poemas que leio
sinto o amor que me fugiu
experimento as sensações
que me ocultaram.
Nos poemas que leio
avalio os meus prantos
equaciono as saídas possíveis
desejo fantasia.
Nos poemas que faço
exponho a minha angústia
a minha frustração
o meu desencanto
por ter conhecido o amor
de um só sentido.
Nos poemas que faço
choro as minhas mágoas
gemo o desconforto
lamurio a solidão
carpo esta tristeza
por ter amado
sem ser correspondido.
A poesia foi
é
e será sempre
a minha tábua de salvação.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Ver e querer

Sentado num banco de jardim
contemplo o mundo em redor.
Observo os pássaros no céu
e invejo-lhes as asas.
Ausculto o piar da coruja
e namoro-lhe o timbre.
Vejo os peixes no lago
e cobiço-lhes a independência.
Escuto o coaxar das rãs
e anseio-lhes a liberdade.
Fito as árvores outonais
e ambiciono-lhes o desembaraço.
Espreito as flores matizadas
e almejo-lhes as cores e os cheiros.
Perscruto o som da brisa
e desejo a sua frescura.
Sinto na pele o calor do Sol
e quero a sua grandeza.
Oiço o regato borbulhante
e peço-lhe a pureza.
Diviso um casal de namorados
e suspiro-lhes o amor.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Ainda um dia

Abro um livro de poesia
leio estrofes atrás de estrofes
decifro as mensagens dos poetas
descubro as suas verdades
faço as minhas interpretações.
Fecho um livro de poesia
mais rico do que era
mais nutrido de sabedoria
e com espírito renovado.
Abro o meu caderno de poemas
pego na minha caneta de tinta azul
e começo a juntar palavras.
Tentando alinhar ideias
escrevo os meus versos
as minhas estrofes
pondo no papel as minhas verdades.
Ainda um dia, no futuro
alguém há-de abrir um livro de poesia
ler estrofes atrás de estrofes
decifrar as mensagens do poeta
descobrir as suas verdades
e interpretar os meus poemas.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Cores da vida

Olho em meu redor
e vejo o mundo em ebulição
sem eira nem beira
nem ponta por onde se pegue.
Só vejo tons cinzentos
breu e escuridão
os brilhos são ténues e opacos.
Olho à minha volta
em plena luz do dia
mas o Sol não cintila
negros são os nossos dias.
Rostos fechados
carrancudos
tristeza estampada
nas faces do mundo.
Vejo tudo isto
e questiono-me:
Onde estão
as cores reluzentes?
Onde se escondem
os verdes esperança
os vermelhos paixão
os azuis crença?
Por onde anda o amarelo alegria?
Que é feito dos tons turquesa
esmeralda
safira?
Onde pairam os tons diamante?
Quem matou as cores da vida?

sábado, 7 de novembro de 2009

Pássaro livre

Sou uno e indivisível
a mim mesmo pertenço
no bem e no mal.
Não ser de ninguém é uma bênção
e deste estatuto não abdico.
Gosto de ser pássaro livre
apesar dos momentos solitários
e dos voos sem sentido.
Recuso enjaular-me
em gaiolas alheias
e perder o meu céu
o meu destino.
Não prescindo da liberdade
de ter asas e voar
escolher a minha rota
e os meus portos de abrigo.
Recuso ser ave aprisionada
pelos caprichos
e vontades de outros.
Posso não ser canora
mas sou ave do meu jeito
assim me fiz
assim me mantenho
assim soltarei o meu último suspiro.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Lá fora a chuva cai

Lá fora a chuva cai.
Neste meu beco de ideias
tento alinhavar conceitos
em esboços de poesia
que me fogem ao sentido.
Lá fora a chuva cai
em bátegas inclementes
que, ruidosas,
desconcentram-me
impedindo-me de ser criador.
Lá fora a chuva cai
e talvez a água vertida
não queira ser poema
e ao diluir-se
lave o saber que me falta.
Lá fora a chuva cai
senhora de si
alheia ao mundo
alienada de mim
e do poema
que tento escrever.
Lá fora a chuva cai
com suas gotas de água
grossas
insensíveis
absortas
que ignoram a poesia
sendo elas próprias
poemas líquidos.
Lá fora chove poesia.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Poeta inconveniente

O poeta pode ser inconveniente
dizendo o que ninguém quer ouvir.
Palavras sopradas em surdina
que ferem ouvidos culpados
são perseguidas vorazmente.
O poeta pode e sabe ser inconveniente.
Gritando ao mundo as vilezas
põe a sua cabeça no cepo
sem temer esse acto guilhotinado.
O poeta é inconveniente
e sabendo que o é
mais inconveniente se torna
mais contestado é
menos procurado fica.
O poeta é inconveniente
e por isso solitário.

domingo, 1 de novembro de 2009

Ligação luso-tupiniquim

Unidos pela palavra
caminhamos num só sentido
o do enriquecimento cultural.
Juntos, lado a lado
no momento, dois povos
duas culturas
estilos vários
uma só língua e identidade.
Amparados pela escrita
cruzamos os mundos criativos
marcamos uma nova era
cunhamos tesouros
firmamos novas vontades
inscrevemos novos capítulos na história
fazemos a diferença.
Ligação luso-tupiniquim
(adoro a expressão)
expressão feliz.
Brasileiros e portugueses
duas bandeiras
uma só nação atlântica.
O que a palavra une
é mais forte
que o oceano que nos separa
A todos os amigos e amigas que por aqui passam sugiro que visitem o novo blogue RASURAS que surgiu da vontade de algumas pessoas, de ambos os lados do Atlântico, em dar o seu contributo para o enriquecimento cultural da língua portuguesa.

Vida de Lisboa

Caminho ligeiro pelas ruas de Lisboa
cruzo-me com toda e qualquer pessoa
este que tosse, aquele ali que se assoa
gente de Alfama, Graça, Alvito, Madragoa
gente simples numa cidade que não destoa
onde o silêncio nem na noite ecoa.
Há quem ande perdido ou simplesmente à toa
ouve-se um ou outro grito que ressoa
não pode ser coisa boa
uma mãe defende o filho como uma leoa
ataca o assaltante e não lhe perdoa.
Há quem coma peixe frito com broa
para sobremesa uma suculenta meloa
como digestivo uma voz que fado entoa.
Uma pomba branca que no céu voa
no rio navega uma frágil canoa
cuidado pescador com a sua proa
não estás numa regata na lagoa
olha que esse petroleiro te abalroa.
Se afundas, que vais dizer à tua patroa?
Aquela que em tua casa é rainha sem coroa.
Aquela que a tua cevada matinal coa
desde o teu regresso de Goa.
Aquela que por ti eternamente se magoa
e no mercado, o que pescas apregoa
na sua voz de varina que tão bem soa.
Aquela a quem tu dedicaste a singela loa
e reza para que a tua vida não se escoa.
A tua morte talvez lhe doa.
Evita, portanto, que essa noticia a moa
e alguém lhe diga: - O seu marido amou-a.
O titulo original deste meu poema é "Exercicio II" e faz parte de uma trilogia de poemas que me serviu de exercicio rimático.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Invisível

Aos teus olhos sou mar revolto
sem maré que me guie
sem lua que me conduza.
Vês-me como brisa de tempestade
furacão sem ferocidade
sou natureza obtusa.
Sentes-me como sopro solar
em noite de lua encoberta
sou escuridão com brilho próprio.
Ouves-me como silêncio atroz
ave canora sem timbre
mutismo por ti infligido.
Nas tuas mãos sou pedaço de nada
matéria inorgânica
sou menos que pó.
Caminhas sobre meu corpo persa
qual rainha em seu domínio
pisando um vassalo insignificante.
Ignoras a alma que me habita
és ceifeira do meu sentimento
para mal dos meus pecados
continuo invisível.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Branqueamento

Podes dizer que estás de cara lavada
e essa possibilidade existe
logo
tenho de acreditar nas tuas palavras.
Podes jurar que és um ser renovado
e essa hipótese não ponho de lado
porque sei
por experiência própria
que a renovação da pessoa é possível.
Podes gritar ao mundo
que teu coração deixou de ser duro
e eu abono o teu grito
porque conheço corações amolecidos
pelos sentimentos.
Podes exaltar o nascimento de uma vida nova
e eu aplaudo o teu aperfeiçoamento.
Mas não me queiras impingir
essa mentira deslavada
que tens a alma pura
porque para branquear a alma
ainda não existe dentífrico

sábado, 17 de outubro de 2009

A minha forma de amar

Amo com toda a força do meu ser
amo no momento e em toda a vida.
Amo no passado, no presente, no futuro
amo no início e no fim.
Amo na tristeza e alegria
na verdade e na mentira.
Amo no branco, no preto, no cinzento
amo colorido e incolor.
Amo opaco, baço, inodoro
amo na audição e no mutismo.
Amo na presença, na distância
no aconchego e na ausência.
Amo nas horas, minutos e segundos
dias, semanas, meses e anos
amo no nunca e na eternidade.
Amo no sim , amo no não
amo também no talvez
na dúvida e na certeza
na utopia e no dogma
amo em alfa e em ómega
analfabeto e erudito.
Amo na escassez e na abundância
amo muito com pouco
amo tudo com nada.
Amo pelo simples facto de amar.
Mas o meu amor não é correspondido
porque talvez
não se deva amar assim.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Como no primeiro dia

É teu este coração rasgado
que o tempo não cicatriza.
É tua esta alma penada
que no meu corpo se refugia.
Estão em ti os meus pensamentos
dolorosas lembranças de nada.
A tua imagem é tudo o que me resta.
Esse último sorriso
ingénuo de tristeza
que na despedida me enviaste
definha ao ritmo das minhas pulsações.
Esse último olhar
que em mim pousaste
esvai-se como suspiros.
O teu níveo rosto
que, tarde na vida, aprendi a amar
esbate-se da minha memória.
Mesmo assim
não consigo deixar de te amar
como no primeiro dia.

domingo, 11 de outubro de 2009

Reunidos no Olimpo

Não posso provar o que digo
mas eis a verdade suprema
o meu destino foi decidido no Olimpo.
Em reunião magna convocada por Zeus
compareceram todos os outros Deuses
desde Apolo a Zéfiro
de Afrodite (Vénus) a Baco (Dioniso)
Ártemis (Diana) e Hermes (Mercúrio)
Eros e Neptuno (Posídon)
Vulcano (Hefestos) e Marte (Ares).
Todos deram a sua opinião
expuseram os seus argumentos
e decidiram como seria a minha vida.
Mas não houve consenso
Deuses houve que se sentiram feridos no orgulho
e acharam que me estavam a dar demasiada importância.
Eu, simples mortal, filho de um Deus menor
avaliado pelos Deuses supremos?
Heresia maior não pode existir
os Deuses têm mais com que se preocuparem.
Então, desde esse dia glorioso
em que meu nome foi falado no Olimpo
tenho vivido num oceano de situações
umas vezes em paz e sossego
outras em constante tormenta.
Tudo por culpa de alguns Deuses
que guiados por Hera
não gostaram que alguém como eu
filho de um Deus menor
fosse protegido do Olimpo.
Vivo pelos caprichos dos Deuses.

sábado, 10 de outubro de 2009

Em bandeja de prata

O amor foi-me servido em bandeja de prata
mas eu era o "garçon" de serviço
e apenas me foi permitido vê-lo sem tocar.
O prato estava bem composto
cheio de requinte, sem ostentação
muita cor e alegria, saudável
delícia de "gourmet"
como se quer num "buffet".
Mas eu apenas o olhei.
Ninguém me disse para o provar
não sabia que podia fazê-lo
e quando descobri o gosto desse amor
era tarde
já alguém o tinha saboreado
e apoderara-se dele.
Resta-me a lembrança
de um dia me terem servido o amor
numa bandeja de prata.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Cúpido

Um cúpido de fraca visão
alvejou-me negligente
e dez anos passados
o veneno da sua flecha
ainda circula no meu sangue.
Um cúpido de má índole
tentou remediar o seu erro
acometendo-me de cobardia
calando a minha voz
impedido-me de expressar
a natureza do amor injectado.
Um cúpido inábil
não satisfeito com o duplo erro
e não tendo antídoto para o veneno
procurou minimizar a incompetência
com o acumular de desacertos
e a minha vida encheu-se de nevoeiro.
Deixei de ser humano como os demais
passei a ser uma cobaia
nas mãos do cúpido.

domingo, 4 de outubro de 2009

Poemas de amor

Carrego nos meus ombros
o peso da poesia que te escrevi
e a cada passo que dou
sinto-me vergar.
Os poemas de outrora
não perderam validade
mas tornaram-se
fardos demasiado pesados
e estou a perder as forças.
Nas palavras que te dei
nos versos que te dediquei
ofereci-te amor e paixão
e comigo ficou a dor
e o sofrimento.
Isto que agora digo
não é um queixume
é uma constatação
um lavar de alma
um expurgar de solidão
que meus poemas me deram
e te ocultaram.
Sim sofro!
Mas na sombra da poesia
esconderei a dor
e continuarei a escrever-te
poemas de amor.

sábado, 3 de outubro de 2009

Metamorfose

Vagueio num bosque de imaginação
caminho trilhos de criatividade
perco-me nas lonjuras da poesia.
Sinto o doce cheiro de um verso
suave fragrância de um poema
deixo-me envolver e perfumar.
A beleza das palavras desfila diante de mim
uma miríade de cores invade-me o olhar
frases com sentidos brilhantes
ofuscam a minha visão enternecida.
Misturo-me com as palavras
e eu próprio sou um verso
elemento de um poema sentido.
Transfiguro-me em poesia
mascaro-me de poeta.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Elos

Letra a letra
forma-se uma palavra.
Palavra a palavra
nasce um verso.
Verso a verso
constrói-se um poema.
Poema a poema
germina uma poesia.
Poesia a poesia
revela-se uma vida.
Vida a vida
refaz-se uma certeza.
Certeza a certeza
liberta-se uma verdade.
Verdade a verdade
edifica-se um saber.
Saber a saber
ergue-se um conhecimento.
Conhecimento a conhecimento
ganha-se a liberdade.
Escreve uma letra e serás livre.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Leio

Leio a poesia consagrada
escrita pelos poetas mestres
e vou bebendo a sabedoria
que desejo ter em meus versos.
Leio os poemas mais afamados
escritos pelos poetas fundamentais
e tento aprender conceitos
que divinizem a minha poesia.
Leio os cantos mais sublimes
versejados pelas vozes exímias
e tento redigir meus textos
com sentimento e paixão.
Leio a poesia universal
inventada pelos trovadores
e procuro a excelência
estampada nas minhas letras.
Leio palavras por forjar
compostas pelos poetas imortais
e sonho ser mais que rimador
mais que aprendiz de poeta.

domingo, 27 de setembro de 2009

Aos poetas e poetisas da blogosfera

Vastos mundos
realidades diferentes.
Sentimentos iguais
justificados na desigualdade.
Vidas distintas, certezas comuns
cada um com seu modo de expressar.
Poetas e poetisas de carne e osso
vozes anónimas que falam e explicam
os porquês da singularidade
dos seus pensamentos.
Punhos que riscam individualidade
em temas colectivos.
Vidas contadas em poesia
poemas que são vida.
Verbos de significâncias várias
adjectivações singulares.
Por cada sentimento mil explicações
por cada medo mil reacções
por cada poeta um olhar
em cada poema um trecho de vida.

sábado, 26 de setembro de 2009

Mais

Mais que sonhador
eu sou o próprio sonho
personagem de mim mesmo.
Ando de desejo em desejo
sem encontrar uma só realização.
Mais que esperançoso
sou a própria esperança
teimosia do meu ser.
Vou de porta em porta
sem encontrar uma só motivação.
Mais que inventivo
sou a própria invenção
criações do meu intelecto.
Viajo de ideia em ideia
sem encontrar o meu equilíbrio.
Mais que tudo
eu sou o nada
vazio imenso que sou.
Ausência ou omnipresença
aqui estou sem me encontrar.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Poeta arqueólogo

Poeta que estás por vir
arqueólogo do futuro
que meus poemas vais desenterrar
a ti te peço delicadeza
perante o que agora escrevo.
Não tentes escavar significados
nada de oculto existe na minha poesia.
Não procures intenções escondidas
nos versos que fiz e faço.
Não queiras que meus poemas
sejam a tua verdade.
Não autopsies o meu legado.
A minha poesia não está
nem nunca estará morta
e sobreviverá à minha existência.
Todos os meus versos são claros
tal qual as estrelas têm luz própria.
Estes meus poemas que vais encontrar
ler
estudar
declamar
contestar
discutir
plagiar
são pedaços do meu sentir
trechos do meu pensar
momentos da minha vida.
A ti poeta do futuro
arqueólogo da minha obra
peço vergado pela humildade
não desfigures a minha poesia
não mates o que restará de mim
após a minha transformação.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

O meu coração

O meu coração
é como uma casa assombrada
ninguém o habita
mas sente-se uma presença
ninguém arrisca entrar nele
com medo dos fantasmas
que vagabundeiam como espectros.
O meu coração
é como uma mina abandonada
onde outrora se peneirou riqueza
e agora todos temem entrar
nada se move no seu interior
mas ouvem-se os vagões ranger.
O meu coração
é como um navio fantasma
navegando em denso nevoeiro
sem rumo
sem destino
ao sabor da maré estagnada.

domingo, 20 de setembro de 2009

Sentença

Encontrei-me finalmente.
Agora já me compreendo
agora sei onde errei
agora me penitencio.
Reflecti sobre o que fui.
Porque agi assim?!
Que erros cometi?!
Por que pecados sofro?!
Amar-te é castigo divino.
À falta de crença...
amar-te é castigo do destino.
Sou castigado por só te ter amado a ti.
Andei enganado todo este tempo
enganei-me a mim próprio
e enganei o mundo.
Mereço o castigo que me dão.
Mereço sofrer por te amar.
Amo-te e mais te amarei
por todo o tempo (eternidade).
Se for essa a sentença
que pesa sobre a minha cabeça
que desça a guilhotina.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

A mim me acuso

A mim me acuso
carrasco de mim próprio
o nó da forca, fui eu que o fiz
asfixio de livre vontade
bela penitência este sofrer.
A mim me acuso
sofredor sem brio
pecador sou, ninguém o diz
estou preso à liberdade
pássaro que voa sem prazer.
A mim me acuso
ser herege por vocação
cruel na forma de falar
sentimentos usurpados
mea culpa, mea culpa.
A mim me acuso
de viver em rebelião
só a ti saber amar
sofrer por antigos pecados
peço desculpa, peço desculpa

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Teu prisioneiro

Continuo a minha luta
sou guerreiro do desamor.
A minha vida é uma guerra
cujas batalhas vou perdendo
uma a uma.
Luto pelo esquecimento
combato como desistente.
Sou o único soldado do meu exército
armado de indiferença.
Penetro bem fundo
na frente de batalha
e vejo-me rodeado pelo poderio adversário.
O exército que me confronta
e me quer aniquilar
tem a tua imagem como estandarte.
As suas armas disparam
não balas, mas palavras tuas.
As suas granadas
mais letais que minas anti-pessoais
rebentam e libertam o teu cheiro
gazeando-me os sentidos
paralisando a minha vontade.
Sou prisioneiro sem algemas
ninguém me interroga.
De novo em liberdade
volto ao combate
e uma vez mais
saio derrotado.
Sou teu prisioneiro.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Cinco letras

Às vezes fico assim
sem querer rimar
apenas escrevo... porque sim
porque tenho algo para dizer
mas não digo... escrevo
e hoje não quero versejar.
Quero apenas escrever
o que sinto
o que penso
ou o que penso que sinto.
Hoje quero dizer ao mundo
que te amo a ti, Nenúfar.
Quero gritar o teu nome
mas não grito...
tão pouco o escrevo.
Essas cinco letras ficam em segredo
escondidas num cofre.
Basta que eu saiba o teu nome
mais ninguém o pode saber.
És eterno Nenúfar
e o segredo mantém-se.
E se algum dia
tu leres o que escrevo
aquela que amo
será conhecida por duas pessoas
eu... e tu
e basta.
Eu amo-te Nenúfar
e muitos podem saber que amo
que te amo
mas não saberão o teu nome.
Essas cinco letras são secretas
são só minhas
e nunca as direi a ninguém.
Muitos podem perguntar pelo meu amor
e apenas saberão
que amo o eterno Nenúfar
nada mais... é o bastante.
E só eu saberei quem és
até que um dia...
mais tarde ou mais cedo
tu leias o que escrevo
e então...
seremos dois a saber
quem eu amo.
Saberemos os dois
quem é o eterno Nenúfar.
Saberemos ambos
que cinco letras, são teu nome.
Amo-te Nenúfar
e guardo o teu nome
como quem guarda um tesouro
tu és o meu tesouro
o teu nome é o meu tesouro
o meu segredo mais secreto.
São cinco letras apenas
que definem
que acusam
quem amo.
Para ti elas apontam
mas ninguém te vê
por ninguém saber
que letras são.
Amo-te eterno Nenúfar
porque és eterna
no meu coração
porque eterno é o meu amor
e por mais que grite
ETERNO NENÚFAR
apenas eu e tu sabemos
quem tu és.
E só quando leres o que escrevo
saberás
que te amo só a ti
eternamente
com sentimento
com sofrimento
com culpa
com dor
mas amo-te eternamente
para todo o sempre
e mais além.
Amo-te eternamente.
Amo-te Nenúfar.
Amo-te eterno Nenúfar.
Amo-te... cinco letras.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Adeus Nenúfar

Este é o primeiro dia
de uma vida que me espera
mas a saudade já aperta.
Apenas ontem te tinha em meus braços
ainda não me refiz.
Que despedida cruel e maldita
Que doce despedida.
Tu em meus braços enroscada
com tuas lágrimas e comoção.
Eu a tentar resistir ao teu suave aroma.
Tua boca tão perto da minha.
Beijei tua face
sussurrei nem sei o quê.
Tu olhaste-me tristemente... mas sorriste.
Que te disse? Não me recordo!
Apenas sei que mereci o teu sorriso
com as minhas palavras
mas não sei o que te disse.
Tu abraçada a mim choraste.
Com pena de me ver partir, tu ficaste
e eu... com o coração nas mãos
por te ver assim...
triste com a minha partida.
Porque choras, Nenúfar?
Que lágrimas são essas que teus olhos vertem?
Que abraço sentido foi esse que me deste?
Que te disse para merecer esse último sorriso?
Esse sorriso triste, molhado.
Tu enroscada em mim num abraço.
Pudesse esse ter sido o nosso destino
e nunca terias vertido essas lágrimas
nunca chorarias a minha partida
porque eu nunca partiria.
Um último sorriso
neste eterno adeus
e esse beijo soprado que por fim me deste
e com humor, saltei para apanhar
está no lugar que à tua frente indiquei
aqui no peito, bem dentro do coração.
Adeus Nenúfar!
Amo-te!

domingo, 6 de setembro de 2009

Esperança

A esperança é a última a morrer
a minha já morreu
e eu sobrevivi-lhe.
Estou à beira do colapso
estou muito perto da depressão
porque morreu a minha esperança.
O que até ontem existia
deixou de existir, morreu.
Estou de luto pela minha esperança
estou de luto por mim.
Perdi a única coisa que tinha
perdi o meu elo com o mundo
perdi a esperança.
Amei-te com esperança
de que um dia...
Sofri na esperança
que um dia...
Vivi da esperança
de um dia...
te ter
de um dia seres minha.
Mas agora
amo-te...
sofro...
vivo...
sem esperança nesse dia
porque a minha esperança morreu.

sábado, 5 de setembro de 2009

Egoísmo

Desde o momento em que descobri que te amava
que não consigo parar de pensar.
Penso em ti
apesar de te ver todos os dias
de falar contigo todos os dias.
Penso no que poderia ter agora
mas penso principalmente
no que sou.
Penso no que me tornei.
Conhecer-te foi o ponto de viragem.
Saber que te amava
foi o início da reflexão.
Antes de ti já amava
amei e fui amado
mas nunca me senti assim.
Amei porque o homem ama
fui amado por ser homem
mas nunca me dei totalmente
nunca amei a cem por cento.
Usei e abusei das falinhas mansas
desfrutei de corpos nus
dei expressão aos meus desejos
sem remorsos
sem culpas
amei por mim
por gozo pessoal.
Depois conheci-te e comecei a amar-te
e tudo mudou.
Passei a ver para além de mim
passei a ver mais do que uma mulher
vi em ti a pessoa
vi em ti o ser humano
vi em ti o que nunca vi noutra mulher
vi o teu interior.
Foi isso que me fez amar-te assim
foi isso que me fez mudar.
É por amar-te desta forma
que vejo o quão injusto fui no passado.
É por te amar deste jeito
que reconheço o imbecil que fui...
com outras mulheres.
Só através de ti eu consegui ver
o meu egoísmo do passado.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

É por ti

És o meu Nenúfar
força e fragilidade numa só flor.
És a minha eterna paixão
rainha do meu reino pessoal.
És Deusa
o altar é o meu coração.
É por ti que respiro.
É por ti que apenas vivo.
Há muito deixei de ser autónomo
as minhas regras
és tu que as impões
és tu que reges a minha vida
és tu que comandas os meus passos
és tu que manipulas esta marioneta que sou.
Sem ti eu seria imóvel.
Sem ti qual seria a sentido da vida?
É por ti que respiro.
É por ti que apenas existo.
É só por ti que meu sangue circula.
É apenas por ti que meus olhos vêem.
É por ti que ainda oiço.
É por ti que cheiro.
É unicamente por ti que sinto.
É para ti que falo quando escrevo.
É só por ti que apenas sou...

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Bendita sejas

Bendito o dia em que o teu sol me iluminou.
As trevas quase me encarceraram
por pouco não fiquei na escuridão ad eterno.
Foste instrumento do meu anjo protector
enviada para me resgatar.
A luz dos teus olhos incidiu em mim
na minha cabeça brilhou o amor
no meu coração acendeu-se a luz da esperança.
Bendita a hora em que te aninhaste em meu corpo
e evitaste o meu definhamento.
Transformaste minha alma em diamante
nesse dia tudo ganhou razão de existir.
Bendito o momento em que meus olhos te viram
e abandonaram a cegueira que me oprimia
dando-me a conhecer outros mundos
outros universos, outras constelações.
Bendita sejas por me teres libertado
das sombras deste inferno da imbecilidade
que me consumia em ignorância
e me teres dado todo o discernimento.
Bendita sejas por me teres resgatado
desse ignóbil analfabetismo do pensamento
que me restringia os passos
e me negava a saudável sabedoria.
Bendita sejas para todo o sempre
por te revelares sem preconceitos.
Bendita sejas... poesia.

Aquilo que és

Na montanha russa que é a minha vida
tu é a subida mais íngreme
a descida mais abrupta.
No carrossel que é a minha vida
tu és o eterno rodopiar.
No caos que é a minha vida
tu és a bonança.
No oásis que é a minha vida
tu és o poço de água fresca.
Neste meu mundo de solidão
a tua imagem é a minha companhia.
Neste meu deserto de esperança
tu és o arbusto do consolo.
Na minha vida
tu és tudo
ar, água, sol, chuva, vento.
Só não és a terra que piso.
Só não és o solo que habito.
Só não és... minha.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

O amor

Por que existe o amor
se nem todos são amados
ou se o são
não o são pela pessoa amada?
Por que é o amor o sentimento mais nobre
se nem todos o vivem plenamente?
Por que não ensinam o amor nas escolas?
Talvez a maioria chumbaria nos testes da disciplina
porque o amor
é mais difícil de entender
do que o teorema de Pitágoras.
Porque o amor não é a soma de nada.
O amor não se adiciona ou subtraí
nem sequer se divide.
O amor apenas se pode multiplicar
ou desaparece.
O amor é mais complicado do que...
aprender um idioma
compreender a fotossíntese
uma discussão filosófica.
O amor é uma disciplina sem programa.
O amor não pode ser ensinado
é demasiado complexo
tem diversas leituras, nuances.
O amor não se define
porque não há uma só definição.
O amor não se decompõe como um poema.
No amor não há figuras de estilo...
complemento directo ou indirecto.
No amor não há sujeito ou predicado.
No amor não há verbo.
O amor não se discute
como se discute na filosofia.
No amor não há mito.
No amor não há dogmas ou utopias.
O amor é amor por ser amor, mais nada.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Selva do amor

Caminhava solitário, boa vida
sem me apoquentar com o mundo
era livre e feliz
até me embrenhar na selva dos sentimentos.
Ramos de ternura e paixão
entrelaçaram o meu corpo
fiquei preso pelo coração.
Tentei lutar em vão
a selva foi mais forte.
Os encantos e feitiços
rodearam a minha vontade.
Inalei os odores do amor
fiquei preso a um denso sentimento.
Absorvi gotas de pólen-paixão
e não mais fui o mesmo.
Quanto mais entrava na selva
mais perdido me encontrei.
Ramagens de desejo
abraçaram a minha tenacidade
e absorveram a coragem.
Foram-me filtradas as palavras
pouco a pouco fui definhando
até nada de concreto sobrar.
Entrei na densa selva do amor
e deixei de ser quem era.

Fecho os olhos

Fecho os olhos e sonho
vislumbro uma outra vida
sem esta dor que me atormenta.
Fecho os olhos e sonho
uma vida diferente
uma vida que gostaria de ter.
Sonho uma vida contigo.
Sonho passeios à beira mar.
Sonho caminhadas, lado a lado
de mãos dadas.
Sonho beijos ardentes.
Sonho intimidades.
Sonho beijos teus.
Sonho carícias tuas.
Sonho palavras sussurradas.
Sonho sorrisos e gargalhadas.
Sonho apenas sonhos.
Fecho os olhos e sonho.
Sonho conversas intermináveis.
Sonho confidências.
Sonho segredos partilhados.
Sonho a tua voz.
Sonho o teu sorriso.
Sonho e sinto o teu cheiro.
Sonho apenas sonhos.
Sonho uma família
eu, tu e descendência
pequenos eus
pequenas tus.
Sonho comunhão.
Sonho amor.
Sonho apenas sonhos.
Fecho os olhos... e sonho.

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Homem livre

De que serve a liberdade de um homem
se nem, a tudo, tem acesso?
Como podem dizer que sou livre
se não tenho quem amo?
Sou livre de amar
tenho essa liberdade
mas estou preso a um amor
que me restringe os passos.
Como posso ser livre assim?
Que liberdade é esta?
Não tenho uma vida livre de dor
não tenho liberdade no amor.
Sinto-me como um recluso
que não pode ter em seus braços
aquela que ama.
Que liberdade é esta?
Se eu fosse realmente livre
não estaria preso a estes sentimentos.
Se eu fosse realmente livre
quebraria estas correntes do coração
e então seria plenamente feliz
seria finalmente
um homem livre.

domingo, 30 de agosto de 2009

Certeza vs Dúvida

Na certeza de um sentimento
construi o meu mundo
vivi em dor
vivi a amar.
Na certeza de uma paixão
refiz a vida
aprendi a viver em dor
continuei a amar.
Na certeza do sofrimento
resignei-me
aceitei viver em dor
sempre a amar.
Na certeza da derrota
renasci
suportei a dor
continuamente a amar.
Na certeza do impossível
vivi
ignorei a dor
eternamente a amar.
Na dúvida de um momento
paralisei
a dor voltou mais intensa que nunca
e eu a amar.
Dói mais a dúvida do talvez
do que a certeza do não.

Matar a poesia

Mera presunção de quem sabe juntar letras
querer fazer as vezes dos poetas
arrotando palavras num papel
sem a sensibilidade que os poemas merecem.
Leviandade de quem tem tempo nas mãos
ideias desconexas para dar a conhecer
regurgitando versos assimétricos
sem a mestria dos verdadeiros poetas.
Teimosia numa acção sem mérito
alucinações de carácter lascivo
vómito de frases destemperadas
sem a nobreza que se deseja na escrita.
vaidade num garatujar inóspito
sem vergonha de matar o poema
bolsando pedaços de saber inofensivo
sem inteligência para partilhar.
Reflexões sobre a existência de nada
cogitações plagiadas sem remorso
jactos de prosápias delatoras.
Celebração de tempos ignóbeis
bazófias sem justificação coerente
falta de denodo original, sem timbre
jorro de palavras cruelmente copiadas.
Acções assassinas da bela poesia.

sábado, 29 de agosto de 2009

Eu poeta

Não quero ser poeta com silêncio na voz
Quero gritar minhas palavras
meus versos e poemas.
Quero dar a conhecer o meu sentir
o meu pensar e meus desejos.
Não quero ser poeta mudo
muito menos amordaçado.
Quero falar do meu modo
sobre tudo e todos.
Quero que conheçam as minhas razões
as minhas ideias e minhas verdades.
Quero sentir compreensão
mesmo existindo desacordo.
Quero usar o meu critério
a minha forma e meu estilo
mesmo que apenas eu me aprecie.
Quero ser poeta como eu
poeta que poetiza pela sua cabeça.
Poeta imagem de mim
poeta Emanuel
poeta eu.
Um dia serei esse poeta
e cada poema será uma assinatura
uma rubrica e um sinal
de mim próprio.
Nesse dia os meus poemas
terão a minha marca
a marca do poeta eu.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

O voo do falcão

Nasci em ninho tosco
de galhos e gravetos mal entrançados
fui cria de pássaro solitário
a lei da sobrevivência foi a minha bíblia.
De perigos e devaneios escapei
ganhei asas, aprendi a voar
fortaleci-me na escassez
transformei-me em falcão.
Grandes foram os meus voos
em território hostil mas conhecido
persegui presas, fugi de caçadores
sobrevivi.
Planei ao sabor da brisa
mas também voei contra o vento
fiz uso do meu instinto animal
amadureci antes de ser dono dos céus.
Fui um entre muitos
a união faz a força
no número encontrei a segurança
mesmo sendo senhor de mim.
Tive vários parceiros de voo
houve gozo, nunca plenitude
a ave que desejei voava bem mais alto
longe do meu alcance
fora da minha jurisdição.
Ainda tentei acompanhar seu voo
mas invadiu-me a vertigem cobarde
e a distância foi-se alargando
mudei meu rumo, procurei alternativa.
Rasguei os céus em voo solitário
tentando encontrar complementaridade
nenhuma outra ave cruzou o meu espaço aéreo.
Cansado de voar em círculos
pousei, esperei, ansiei.
Tive vontade de voltar a voar
desejei voltar a ter companhia nos céus
mas já não fui capaz de sair deste solo.
Estou a perder as asas
acho que estou a desaprender
acho que já não sei voar.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Felicidade de poeta

Quão insaciável pode ser a fome de um poeta
se ao longo da vida nada come
para além de versos insonsos
e intragáveis poemas de sabor amorfo
Quão intensa pode ser a sede de um poeta
se ao longo da vida nada bebe
para além de gotículas salobras de dor
e salpicos de desgosto pestilento
Quão escasso pode ser o sono de um poeta
se ao longo da vida nada dorme
para além de minúsculos roncos
em camas espinhosas de sofrimento
Quão ignóbil pode ser o descanso de um poeta
se ao longo da vida nada descansa
para além dos momentos em que escreve
e solta o verbo que nasce de si
Quão silenciosa pode ser a voz de um poeta
se ao longo da vida nada diz
para além dos seus pensamentos incompreendidos
clamados pela sua boca amordaçada
Como pode um poeta não ser feliz

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Tempos houve

Tempos houve em que eu ria do destino
zombava dele e tinha sorte
tudo fazia, a nada me negava.
Tempos houve em que eu era imortal
o mundo não tinha segredos
que eu não pudesse desvendar.
Tempos houve em que eu era rei
o mundo prostrava-se a meus pés
sem ter súbditos, reinava.
Tempos houve em que eu voava
e sem asas era dono dos céus
os ventos eram meus aliados.
Tempos houve em que eu fazia magia
e sem poções os feitiços eram vontade
os meus desejos eram de encanto.
Tempos houve que já acabaram
findaram-se os caprichos realizáveis
desci à terra e vivo como os demais.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Amo e sofro

Amei... ainda amo
fui feliz, infeliz, odiei... voltei a amar
Fui no passado
sou no presente
o futuro... não sei!
Amei... sofri... ainda sofro
mas não é o mesmo sofrer
é mais maduro... não dói tanto.
Sofri como sofre quem ama
mais ainda!
Sofri por amar e não o dizer.
Sofri...
Faltaram as palavras... acobardei-me
tive medo... tenho medo ainda?
Não!
Hoje falo sem problemas
hoje digo sem vergonha... amei e tive medo
hoje amo sem medo
mas... sozinho.
Amo à distância.
Já é tarde... a oportunidade passou.
Hoje quem amo tem família
não posso destruir essa família
essa família existe porque calei
é minha criação.
E agora...
embora fale sem medo
oculto um nome
escondo identidades
não por medo... por respeito
e... porque quem amo
se não sabe... desconfia.
Sofri... porque calei...
não disse... AMO-TE!
E sofri... e mais sofri... quando o destino quis.
Oh como sofri
oh como doeu
mas tudo passa
tudo menos o sentimento.
Esse é maior... mais forte
é mais sentimento.
Ainda sofro... outro sofrer.
Sofro por não me libertar de um amor
sofro por não conseguir amar outra mulher
é outro sofrer
mais suave... mais terno.
Quem sabe... um dia
amanhã, depois... em outra encarnação
serei feliz... completamente
de corpo inteiro.
Até lá... amo e sofro.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Só para dizer que te amo

Já te escrevi tanto.
Muitas palavras escrevi e não leste.
Já escrevi tanto que cansei.
Cansei a mão de tanto escrever.
Já te escrevi tanto
e apenas te disse nada.
Escrevi e não sei onde.
Muito do que escrevi anda perdido
como eu.
Escrevi poemas rimados
com palavras de amor
palavras sofridas.
Escrevi-te o meu amor
de tantas formas
com tantas palavras
que deixei de ter palavras rimadas.
Agora escrevo-te num outro registo
mais cru
mais directo
directo ao coração
sem me preocupar com a rima certa.
Continuo a escrever-te o meu amor
talvez com menos beleza
mas com o mesmo amor
a mesma paixão
porque os sentimentos estão aqui
no meu peito
sinto-os
vivo-os
tenho-os dentro de mim
mas já não há palavras
já não há vocábulos originais
que expliquem estes sentimentos
por isso deixei de rimar
mas não deixo de escrever
e escrevo-te o meu amor por ti.
Já escrevi tanto
e não te disse nada.
Muito do que escrevi anda perdido
talvez numa gaveta
numa prateleira
até mesmo entre as folhas de um livro.
Talvez no meio de Shakespeare
mesmo no meio de Romeu e Julieta.
Não sei.
Só sei que já te escrevi tanto
tantas palavras
tantos versos
tantas quadras
tantos poemas
só para dizer que te amo.

domingo, 23 de agosto de 2009

Tempo c/ Breizh da Viken

O tempo pára, que somos?
Fantasias construtoras de um futuro ausente
escrevemos poesia, bebemos utopias
somos cálices prazenteiros de comunhão
nesta vida vazia de sociedade apetecida.
Deserto de cimento arquitectónico, selva arrumada
suja de tanto ser passeada! Vivemos na jaula da cidade.
Lá nos sabemos, lá nos conhecemos, lá nos escrevemos.
O tempo urge, nada falece, nada se move
a clepsidra goteja.
Quem fez o tempo parar?
por que se ausentam as fantasias da esperança
quem renega o valor da criatividade feliz e inovadora
quem ousa impedir que descrevamos o mundo a nossos olhos
quem controla o tempo?
Aquele tempo que impunemente nos foge pelos dedos
deixando as nossas mãos alagadas de suores por escorrer.
A quem convém a nossa obra suja e inacabada?
Quem é dono das mordaças que nos querem abraçar a boca
quem é quem? Quem nos responde?
A ampulheta continua a esvaziar.
Este poema é o resultado de uma parceria com a minha amiga Breizh da Viken