Quando o génio entra de férias, supostamente vitalícias, e as incertezas perdem terreno para a indiferença, eis que as adversidades mexem os cordelinhos e encontram sempre uma solução para se fazerem sentir, em todo o fulgor da sua inconveniência ácida.
Quando os caminhos ficam leves e consegue-se percorrê-los em ponto-morto, sem necessidade de gastos extra em esforço e desconforto, e as nuvens parecem querer revelar o brilho azul do céu diurno, eis que o fado arranja sempre um jeito de ser dedilhado tempestuosamente na paleta cinza e íngreme da sorte madrasta.
Quando o sossego é um voo planado, sereno e tranquilo, ao sabor de brisas camaradas, e os horizontes são balsâmicos na sua extensão, eis que Zéfiro acha sempre uma forma linear de boicotar a contemplação mansa das searas e sopra rajadas opacas de vinagre e absinto gelado.
Quando a vida parece lubrificada e tudo corre sobre rodas, eis que as pedras apelam ao deus dos seres inanimados e poluem as engrenagens da esperança, substituindo a mansidão pelo caos, a calmaria pela desconfiança, a paz pela teoria das cordas.
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