Durante anos defendi uma norma de vida que consistia em ouvir o dobro daquilo que falava, usando como argumento o facto de termos dois ouvidos e somente uma boca. O conceito é básico, quase pueril, no entanto, é dotado de uma lógica, quase, irrepreensível.
Por ter uma mente inquisitiva, comecei a pensar numa forma de ultrapassar o problema que o advérbio de modo “quase” colocava. Ele sugere falibilidade e também é lógico, porquanto, numa conversa entre duas pessoas, é impossível que ambas escutem o dobro do que falam.
Como resolver este paradoxo?
A solução parece ainda mais infantil ou rebuscada, mas a própria natureza deu-nos as pistas através da anatomia. As orelhas são laterais e simétricas, e isto significa que o importante não é ouvir em dobro, mas sim escutar de modo harmonioso.
Nesta perspectiva cheguei à conclusão de que o conceito inicial era falho e aquele que passei a usar traduz-se numa palavra aplicável à forma como se ouve (equilíbrio) e outra ao que se fala (temperança). E estes dois substantivos são indissociáveis.
Sem comentários:
Enviar um comentário