quinta-feira, 28 de março de 2013

ROSA MARIA

Com teu calor e paixão escreves poesias
que alimentam as emoções mais recatadas
como sabemos nem todos os dias são dias
nem as manhãs nascem de más alvoradas. 
 
Com os versos de dor, amargura, tristeza
discursas sobre a vida como outros calam
falas de melancolia, de amor com singeleza 
anuncias ao mundo o que muitos não falam.
 
Com a tua poesia solitária roubas solidões
em muitos lares és companhia bem-vinda
és aconchego p'ra tristes almas e corações
porque tua generosidade poética é infinda.
 
Com tua pena tocas humanos sentimentos
que são teus, são meus, são de todos nós
tuas palavras chorosas, prantos, lamentos
são gritos d'alma que não precisam de voz.

Poema extraído do meu livro POETAS QUE SOU - Lua de Marfim - 2013

terça-feira, 26 de março de 2013

No silêncio das estrelas (inédito)

No silêncio que as estrelas proporcionam
encontrei, abertas, as portas do pensamento.
Deixei, ingenuamente, que a ilusão caminhasse
sem conseguir travar os seus passos.
Fui escravo da sua vontade.
Agrilhoado pela falta de realismo
fui transportado pela esperança vã
de, algures pelo caminho, te encontrar
e finalmente poder dizer
todas as palavras que me queimam o peito.
Queria, uma vez na vida, ser audaz
gritar, a plenos pulmões, a dor da alma
e assim secar a fantasia destas lágrimas
que, mortas à nascença, eu não soube chorar.
Queria, pelo menos uma vez,
dizer bem alto que sou teu prisioneiro
e que sonho a chegada do momento
em que, de olhos bem abertos,
saberei como te oferecer
a suprema prova de amor.

segunda-feira, 25 de março de 2013

GRAÇA PIRES

Às vezes é no conforto do silêncio
que as lágrimas se ajustam aos olhos
e rodopiam numa dança salgada
em marés de lembranças e vazio.
Sente-se a vibração das horas
nas correntes do rio solitário
quando as pupilas sangram dor
e inudam os rostos de angústia.
Resta lavar as mágoas da alma
e afogar as manchas do peito
na voz morna do pranto.

Poema extraído do meu livro POETAS QUE SOU - Lua de Marfim - 2013
 
 

quinta-feira, 21 de março de 2013

NATÁLIA CORREIA

Mulher açoreana, pêlo na venta
poetisas como tu já não fazem
nem sei como a poesia aguenta
quando os melhores já jazem.

Guerreira de milhentas batalhas
foste mais audaz qu'os audazes
este país hoje está de cangalhas
nem sabes a falta que nos fazes.
 
Lutadora sem pápas na língua
p'ra casa não levavas desaforo
o nosso idioma anda à míngua
de nada serve o pranto e choro.
 
Tua voz de tom satírico, mordaz
nunca se deveria ter despedido
o pessoal anda em marcha-atrás
porque esta vida perdeu sentido.
 
Levaste as tuas armas contigo
quem te admira ficou indefeso
os políticos só olham o umbigo
e o povo, bem, esse anda teso.
 
Sem ti, Portugal não tem nexo
nunca antes tal por aqui se viu
o povo fodido tem menos sexo
e a taxa de natalidade diminuiu.

Este poema retirado do meu livro POETAS QUE SOU - Lua de Marfim - 2013

segunda-feira, 18 de março de 2013

JÁ PASSOU ALGUM TEMPO (inédito)

Já passou algum tempo
desde que te vi a última vez
e custa não ouvir a tua voz
afogar-me no azul dos teus olhos
ou até mesmo
partilhar a tua respiração.
Já passou algum tempo
uma simples eternidade
um piscar de olhos
e a cada segundo sentir
bem fundo na pele, no corpo
a ausência do teu toque.

domingo, 17 de março de 2013

UM DIA

Um dia, quando despertares da letargia do sono
e te lembrares da poesia que respirámos juntos
recorda com saudade o meu acordar rubro
e a minha resistência em ser poeta pela manhã.
Um dia, quando te libertares da felicidade do sonho
procura no azul-celeste da tua memória viva
os versos doces que quis escrever no teu corpo
e sente o sal que os meus olhos derramaram
sobre as imaculadas folhas de papel virgem.
Um dia, quando sentires a dureza dos caminhos
e quiseres sarar as cicatrizes da tua existência
reaviva os verdes momentos de esperança
daquelas palavras escritas que um dia te dei.
Um dia, quando confessares a tua essência
e essa verdade que sempre viveu em ti
podes enfantizar as qualidades da poesia
que pensei mas sempre resisti em escrever.
Um dia, depois de ouvires os sinos da partida
e descobrires a cegueira dos meus olhos meigos
aplaude a minha falta de originalidade criativa
e enaltece a forma como lomelinizei a vida.  

Este foi o poema que escrevi para a antologia ENTRE O SONO E O SONHO VOL. IV - Chiado Editora - 2013

quarta-feira, 13 de março de 2013

CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

Falaste sobre o homem mundano
ser recatado, com vicios, humano
sofrido, caído em desgraça, de pé
viste mais que o seu lado profano
observaste o uso do poder tirano
e a separação entre ricos e a ralé.
 
Ofereceste tua voz ao campesino
com palavras disseste seu destino
foste do pobre, o carpinteiro José
cujo filho, Jesus Cristo, o menino
como tu também foi ultramarino
e fez de teus versos intensa maré.
 
Poeta de ideias firmes, humanista
teórico simples mas não simplista
viste o mundo tal qual como ele é
da vida deste o teu ponto de vista
numa perspectiva em tudo realista
fizeste da poesia teu objecto de fé.

Poema extraído do meu livro POETAS QUE SOU - Lua de Marfim - 2013

sábado, 9 de março de 2013

Sentir poesia c/ REGINA RAGAZZI


Os olhos do poeta são pontes
que ligam alma e paisagem.
São janelas que se abrem
num derramar incessante de emoções.
São jardins sempre floridos
Em todas as estações.
 
Os olhos do poeta sonham acordados
e têm brilho e colorido diferentes.
Eles captam e reflectem em si
todos os nossos sentimentos.
São fontes inesgotáveis de inspiração
encantam, emocionam, são poéticos .
 
Os olhos do poeta são verdades
na dor, na alegria, no mistério.
São esferas de lucidez e razão
no infortúnio e na sorte.
São espelhos de crença e vontade
desde o dealbar da vida, até à morte.
 
Os olhos do poeta vêem mais longe
vão para além do pensamento.
São milagres de eterno saber
galáxias de paixão ou desencanto.
São renovação de esperança perdida
são apenas olhos de poesia.

Poema extraído do meu livro LICENÇA POÉTICA [duetos lomelinos] - Lua de Marfim - 2011

terça-feira, 5 de março de 2013

ANTERO DE QUENTAL

O mundo foi sua casa permanente
na vida foi peregrino, não indigente
sua liberdade, com garra defendia
à politica lusa nunca foi indiferente
fundou partido de forma coerente
jamais se escondendo na ideologia.
 
Pensou tudo com amor e candura
filosofou sem usar excessiva lisura
silêncios impostos jamais permitia
disse o que pensava sem censura
sua obra intemporal ainda perdura
e consegue ser actual hoje em dia.
 
Poeta de ideias e valores singulares
pensador soberbo entre seus pares
com a pena afiada animou a poesia
um dos muitos trovadores insulares
universal na escrita e em seus lares
revolucionário nas letras que fazia.
 
Em poemas de temáticas diversas
com o mundo entabulou conversas
dando asas ao saber que possuía
poeta do real e não de promessas
deixou em sonetos, bem expressas
as matrizes p'rá lusitana sabedoria.

Poema extraído do meu mais recente livro POETAS QUE SOU - Lua de Marfim - 2013

sexta-feira, 1 de março de 2013

MANUEL MARIA BARBOSA DU BOCAGE

A ti nem sequer nos ousamos comparar
entre os maiores foste enorme, gigante
és mestre e uma referência importante
todos sabemos e ninguém pode negar.
 
Nasceste poeta, era tua sina escrever
era o que se esperava de tanto talento
com a rima procuraste o teu sustento
e nunca calaste o que tinhas para dizer.
 
Tu foste satírico, eloquente e brejeiro
à luta das palavras não viraste costas
foste alvo d'anedotas e rei das apostas
por Pina Manique visitaste o cativeiro.
 
Viste o mundo nos passos de Camões
foste ao Oriente e estiveste no Brasil
da tua produção poética quase febril
destaco os sonetos, fábulas e canções.
 
Também escreveste várias endechas
epístolas e odes de grandíssimo valor
escolheste para tema querido, o amor
tremendo é o legado que nos deixas.
 
Por ti, poeta maior, também escrevo
e sei que o faço numa menor medida
foste de tal grandeza toda a tua vida
que dizê-lo em verso nem me atrevo.

Poema extraído do meu recém editado livro POETAS QUE SOU