Estou cansado das primaveras atrasadas, com flores estéreis e sem cor, espargidas de aromas inodoros. Prescindo dos favos de mel acerados pelas obreiras, sem solas nem décimo terceiro, e dos tijolos de milho prensado pelas ferraduras desenxabidas dos asnos-rei, também conhecidos como vendedores de banha-genérica – porque a banha da cobra já não compensa.
Não quero mais esperar pelas marés de lua cheia nem pelo rodopio vertical das andorinhas acrobatas, em fins de tarde sem pôr-de-sol. Tampouco me interessam os aprendizes de Fernão Capelo, ou versões “pimba” das fábulas, onde lebres e cágados são personagens isentas de fiabilidade.
Cansei-me de todas as histórias inundadas de lugares-comuns e de oásis com palmeiras virtuosas, dromedários adormecidos, e odaliscas vergadas ao império do silicone. Já não tenho pachorra para evangelizações discursivas e esgotei a paciência nos testemunhos dos criativos de ponto cruz e bombazina.
Até os hálitos de menta e tomilho fumado deixaram de perfumar o ar que respiro, assim que estendi a toalha da fadiga e liguei a ventoinha de incenso.
Abdiquei do estéreo e voltei a mono.
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