Oiço o som metálico do trompete, que sai das colunas, e na mente ecoa-me um cenário distante, no tempo e no espaço, como uma lembrança acabada de nascer no improviso de Coltrane. Mas não é jazz, nem memória. É uma imagem vívida de outra era, outra realidade, talvez desejo, quem sabe sonho irrealizado.
Confuso, quedo-me, de olhos fechados, a escutar a sinuosa melodia que flutua indiferente ao impacto que me aplica, e vejo, tão nitidamente como o agora, um episódio de vida que, tenho a certeza, nunca foi meu. Existem dejá vus de momentos jamais vividos?
Abro os olhos pela urgência ofegante de voltar a mim e à realidade que me rodeia. O som dissipou-se, não sem deixar-me o corpo perturbado e trémulo.
As pernas bambas, prestes a colapsar, pedem-me que encontre um lugar para me sentar até que as palpitações regressem à normalidade. Receoso, caminho devagar até ao único banco vazio que vislumbro. Sento-me após uma caminhada eterna e tento colocar as ideias em ordem.
O coração desacelera e a lucidez é-me devolvida. Respiro fundo e, com a maior tranquilidade que o raciocínio me concede, concluo que estive, mais uma vez, à beira de uma síncope.
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