sábado, 16 de março de 2024

Diário do absurdo e aleatório 89 - Emanuel Lomelino

O mundo moderno é um menu de desvios, encruzilhadas, atalhos e outros percursos que iludem pela vertigem do imediato associada à preguiça, porque o importante passou a ser a fim da caminhada em detrimento da satisfação pelos passos dados.

Todos se acham no direito de colocar coroas na cabeça e já nem existe a necessidade de serem feitas de louro, até porque tomilho e orégano são mais cheirosos. Da mesma forma, ilusoriamente, o brilho dos sorrisos passou a ser de plástico e a gratidão não é voluntária - exige troco ou contrapartida.

Já não importa a essência, mas sim os perfumes genéricos. Os arco-íris são agora imposição e as cintilações são mais louvadas do que a uniformidade das sombras nas noites de verão. Já ninguém quer saber do céu azul, pontilhado pelo branco das nuvens, porque flutuar na fantasia dos dias é menos doloroso do que ter os pés assentes na realidade no chão.

Há algum tempo li uma frase que dizia, por outras palavras, que o problema da humanidade nunca esteve na dentada que Eva deu na maçã, mas sim no facto de, pouco antes, ao comer um cogumelo, plantado na base da macieira, ter começado a ouvir a serpente falar.

Se pensarmos bem, e olharmos o mundo, tal qual ele está hoje (psicadélico) e a forma (caleidoscópica) como as pessoas o veem, não fica difícil acreditar nessa versão.

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