domingo, 31 de março de 2024

Diário do absurdo e aleatório 182 - Emanuel Lomelino

Sempre fui apologista das discussões literárias – tertúlias (que não devem ser confundidas com “saraus” porque são eventos distintos) – pela possibilidade que dão para debater conceitos, tanto de criação como de leitura.

Infelizmente, esse género de encontros é cada vez mais raro, para não dizer inexistente, porque as artes deixaram de estar associadas a conceitos filosóficos claros, e os artífices nem sequer sabem definir as suas criações. Tudo é feito pelo simples acto de fazer.

Por outro lado, quando temos a sorte de assistir a uma tertúlia, ficamos com um tremendo amargo de boca pela enxurrada de argumentos vagos, que são proferidos com a maior das convicções, mas sem conteúdo aproveitável ou isento de lacunas.

É triste verificar que, para além do vazio intelectual dos criadores, os consumidores deixaram de ser exigentes e aceitam qualquer coisa. Já não há critério. Já não existe contraponto. Já não há opinião. Já não existe crítica. Só dogmas. Alguém diz que é arte e todos aplaudem, sem hesitar, sem contestar, sem questionar.

Para ser assim mais vale não haver tertúlias. Ou então acabe-se com a arte.

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