segunda-feira, 18 de março de 2024

Diário do absurdo e aleatório 105 - Emanuel Lomelino

Mais do que direito adquirido, escrever é um dever que poucos assumem. Uns por preguiça, outros por ignorância. A maioria recusa a responsabilidade, a minoria acredita que a escrita deve cingir-se aos pensadores, filósofos, doutrinados e eruditos. Boa parte escreve apenas porque sim, a outra parte, espartilhada entre crenças e rivalidades, contesta tudo o que se escreve, qual oposição sem programa alternativo.

Escrever é a liberdade do pensamento, mas alguns “seres iluminados” advogam que a escrita só o é se for feita de acordo com os novos cânones e, por consequência, com a negação dos anteriores. Exigem que se eliminem todos os conceitos, regras e definições do passado, que acreditam ser agrilhoadores da criatividade, e impõem a permissividade restrita dos seus valores literários. Estes sábios da contemporaneidade, quais profetas da verdade absoluta, pensam a escrita de acordo com as fraquezas das suas próprias limitações. Estes censores da modernice, quais escravos das tendências anti autoridade, querem que a escrita se resuma à incoerência das suas crendices anti regras.

Aos arautos dos paradigmas elitistas, eu digo: Mentis! A arte é democrática! Não tem cor, sexo, idade, cultura, religião, política padrão, nem corrente estética ou estilística.

Aos negacionistas do legado que todos carregamos, eu digo: Mentis! A arte de hoje só existe, como é e se molda, porque o passado é o somatório de todas as correntes que nos conduziram até aqui.

Aos génios do desgoverno, eu digo: Mentis! A arte sempre terá regras, mesmo que não sigamos as normas clássicas ou doutrinas pré-existentes, porque até o vosso anarquismo é, por si só, uma regra que vos exige serem contra todas as outras regras.

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