sexta-feira, 15 de março de 2024

Diário do absurdo e aleatório 87 - Emanuel Lomelino

Há este querer sólido e verdadeiro, que me acompanha desde sempre, de encontrar a perfeição do vazio; o silêncio original.

Quanto mais me embrenho na solidão que cultivo, menor parece a distância que me separa de algo semelhante ao Nirvana. Aquele lugar puro, sem defeito, que não é celestial nem divino. Apenas um lugar de paz imorredoura que substitui uma vida inteira.

A cada passo dado dou conta de todo o peso inútil e desnecessário que tenho carregado nas costas. Desfaço-me de mais e mais, sem traumas de separação. Simplesmente largo lastro e caminho mais leve.

O percurso ainda é longo, mas completo na sua única via, num só sentido, perfeito porque é feito de coisa alguma, apenas nada. E estou a conseguir libertar-me de toda a bagagem, de toda a tralha que me tem freado o ímpeto.

Sei que ainda transporto baús encrustados no corpo, com amarras maciças e fechaduras encriptadas, cuja remoção terá um custo de luas e sal, mas blindei a minha resiliência com o aço da vontade suprema e tenho os olhos focados no amanhã, porque é para lá que caminho.

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