quinta-feira, 28 de março de 2024

Diário do absurdo e aleatório 164 - Emanuel Lomelino

Esta coisa de ser metido comigo mesmo, não dar bola a qualquer um e preferir o sossego da minha individualidade em detrimento da interacção sem motivo, tem o seu lado bom, mas também pode provocar lutas internas difíceis de administrar. Principalmente quando sinto a necessidade de demonstrar empatia ou solidariedade com alguém, em momentos complicados.

Esta minha forma de estar no mundo, talvez demasiado autocentrada, é vista por muitos como um afastamento deliberado tendo por base o completo desinteresse nos outros. Embora essa leitura seja errada, compreendo que pensem assim porque, a bem da verdade, raramente demonstrei o contrário e nunca combati essa percepção.

O problema é que depois, quando fico a saber que alguém, que respeito, admiro ou estimo, está a atravessar um momento complicado, quero dar o meu ombro, mas a falta de interacção anterior inibe-me. Fico na dúvida entre agir ou ficar quieto. Fico sem saber se as minhas palavras vão ser entendidas na verdadeira dimensão do meu cuidado ou como intromissão indevida e despropositada.

Então, na incerteza, fico no meu canto a torcer à distância, para que as coisas melhorem e a recriminar-me por continuar a passar uma imagem que não reflete, nem pouco, mais ou menos, a minha humanidade.

Sem comentários:

Enviar um comentário