sábado, 23 de março de 2024

Diário do absurdo e aleatório 134 - Emanuel Lomelino

Imagem retirada da internet

Em criança, logo, numa fase prematura e ingénua da minha existência, comecei a acumular alguns sonhos, como tesouros preciosos que defenderia com a própria vida.

O tempo encarregou-se de concretizar uns, eliminar outros, substituir alguns e frustrar a maioria.

Os anos passaram, comecei a ver o mundo com outras cores e aprendi a delinear os objectivos com outra precisão, porque a experiência assim o exigia, mas sempre sem deixar de sonhar grande.

Durante a caminhada foram muitas as adversidades impossíveis de contornar que me obrigaram a fazer escolhas e a ser mais criterioso. Então deixei de ser um acumulador de sonhos para me transformar em coleccionador de projectos por realizar.

À falta de oportunidade, ou capacidade, para levar tudo a bom porto, apertei mais a malha da exigência e segui na luta escolhendo as batalhas a travar.

Porém, porque a vida apresenta muitas encruzilhadas e o cansaço dos desaires não mata, mas mói, fui deixando cair grande parte da bagagem sonhada para dar algum alívio às costas.

Foi nesse momento que percebi que o meu sonho maior, que apenas vagueava no meu inconsciente, foi o único que sobreviveu à caminhada, resistindo a todos os meus tropeços, enganos e quedas.

Feitas as contas, não fui eu que concretizei este sonho. Foi ele que me filtrou.

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