Há quem acredite no altruísmo das palavras, mas só um incauto pode perspectivar bondade numa conjugação verbal que impõe em vez de sugerir ou, quanto muito, ordena no lugar de colocar à consideração.
Até as pedras, sejam de calcário ou basalto, conseguem transmitir mais leveza do que os discursos militarizados, mesmo ao som de polcas e corridinhos, feitos à medida dos substitutos dos tubos catódicos.
Deixou de existir temperança e vergonha nas faces artificialmente bronzeadas porque o Zé do Manguito continua a preferir sopas e descanso em vez que tirar os suspensórios e mostrar o Judas arranhado.
Havendo música, couratos assados e uma reles esferográfica timbrada, aparecem logo magotes de desocupados intelectuais predispostos a agitarem bandeiras e bandeirolas ao vento carvoeiro, enquanto os copos não secam a cevada quente.
O despertar vem depois, quando os mesmos fidalgos movidos a rancho folclórico, descobrem que, afinal, a caridade é um caça-níqueis faminto e sem escrúpulos, e resolvem lançar outras bandeiras ao vento, soltar verbos pedintes e arrastar as carcaças pálidas no meio da urbe de cintos apertados, como fossem todos sócios-fundadores da liga dos revoltados surpreendidos, mas sem cotas pagas e com o tempo caducado.
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