sábado, 16 de março de 2024

Diário do absurdo e aleatório 90 - Emanuel Lomelino

Nos dias em que quase desfaleço sou acometido por uma amálgama de sintomas febris e hipotérmicos que se intercalam num frenesim impossível de descrever, mas que parecem conduzidos por laivos de demência.

Nesses instantes de nebulosas mortes, sem que encontre explicação plausível ou fragmentos de lógica, dou por mim a divagar pelas correntes artísticas, hoje em desuso (para não dizer extintas e proscritas), e faz-se luz sobre o meu mundo de criação.

Nesses quentes momentos de caos pacífico e agitada ordem, as epifanias sobrevoam-me a mente e os sentidos ficam hipnotizados pelos conceitos mais primários. Mesmo no desconforto das tonturas e com os olhos turvos (quase apagados), é quando melhor enxergo o que de mim pode advir, porque o que já fiz não me interessa, só penso no que ainda não fiz.

São vinte minutos, meia hora, isentos de percepção temporal, mas com o condão de clarificar-me ideias e conceitos, indicar-me outras tendências e possibilidades, abrir-me o espírito para enveredar por diferentes vias e novos caminhos.

Então dou por mim a estudar os antigos ismos das artes e a compará-los (sabendo que não há comparação) com o mesmismo que se instalou neste meu tempo.

Aprendo as diferenças entre o cubismo das telas e o surrealismo ou expressionismo dos poemas, de Picasso, e fico a adivinhar quantos serão os eruditos anti ismos de hoje que conhecem essa vertente do criador de Guernica.

Depois começo a escrever estes fracos textos sintéticos, com um sorriso irónico colado nos lábios, por saber que quase ninguém decifrará o conteúdo do último parágrafo.

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