O bairro está sem luz há um par de horas e como ainda é cedo para descansar os ossos abeiro-me da janela, mesmo sabendo que nada conseguirei ver.
Poderia dizer que esta falta de algo para descrever é culpa dos meus olhos que já pouco enxergam ou da poupança forçada de energia, mas estaria a ser desonesto.
Também poderia justificar o marasmo visual com a ausência de movimento na rua ou pelo breu imposto pela noite sem lua e estrelas, mas incorreria em falso testemunho.
Simplesmente não vejo nada porque, apesar de já ser outono, a árvore defronte dos meus olhos é caprichosa e decidiu adiar o strip da sua densa folhagem, impedindo-me de ver além de si – a vaidosa egocêntrica.
Assim sendo, fico-me por aqui, preso a esta cegueira nocturna, na esperança de que numa outra noite, sem corte energético nem árvore vestida fora de época, consiga enxergar algo interessante que sirva de mote a um novo exercício de escrita.
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