Vivo no bosque da vida, desde o berço, protegido
por plantas e animais que nunca me foram estranhos. Ao longo do tempo fui
construindo peça a peça, tijolo a tijolo, a verdade do meu mundo. Ano após ano,
mês após mês, semana após semana, dia após dia, aculturei a minha mente, fiz-me
homem à minha imagem. O tempo passou na sua vertigem e o bosque transformou-se
na minha casa cujos alicerces eu próprio construí. Entre certezas e receios
deixei-me envolver, pouco a pouco, nas teias da falsa ilusão. Necessidade
inconsciente?! Consciência doentia?! Os anos escorreram-me entre dedos e apesar
da vontade e do querer, nunca me libertei totalmente das algemas que me
impediam de conhecer o mundo para além desta casa-bosque onde me refugiei.
Hoje, passeando pelos jardins do pensamento, dou conta dos sussurros da razão que o tempo me escondeu nas folhagens da utopia. Oiço os chilreios fantasiados da promessa que nunca o foi e interrogo os passos que dei. Palmo a palmo caminho por novas alamedas, vagueio entre flores cujo nome desconheço e tomo consciência do tempo perdido mas não lamento o que me fugiu. Hoje, confrontado com outras realidades, questiono-me sobre o passado e choro as lágrimas que há muito deveria ter vertido. Sei que continuo preso a um momento que nunca existiu mas também sei da vontade hercúlea que existe em mim para recuperar a posse de mim mesmo. Hoje reconheço que adormeci algures na vida e todo o tempo que dormi foi tempo perdido. Mas acordei! Despertei para uma nova vida, para uma nova realidade. Confesso que não me sinto completamente desencarcerado mas aos poucos estou a conseguir desfazer os nós desta corda que me sufocou toda a vida. Cresci!
Sem comentários:
Enviar um comentário