domingo, 20 de outubro de 2024

Crónicas de escárnio e Manu-dizer 15 - Emanuel Lomelino

26-09-2024


Apesar de não ser saudosista, às vezes vejo-me confrontado com situações que fazem com que o sangue ferva nas veias e nasce-me no âmago uma espécie de conservadorismo (que não é coisa geracional, mas sim de bom-senso, estilo e honradez).

Poderia socorrer-me da famosa frase proverbial “eu sou do tempo…” mas, porque o agora também é o meu tempo, terei de escrever “longe vão os tempos” em que, até os calhordas, demonstravam coerência nos discursos.

Longe vão os tempos em que as pessoas pintavam-se com as suas próprias cores e jamais abdicavam delas nem se camuflavam ao sabor das correntes ou de interesses ocultos.

Hoje, o engodo é o pão nosso de cada dia, e ninguém se incomoda com o espírito do “vale tudo”. Bem pelo contrário, até aplaudem.

Hoje há uma cultura farsante, que passa despercebida aos menos atentos e desavisados, como o caso do fulano B – que conheço mas omito o nome para não ficar gravado na história – figura sempre presente na primeira fila das manifestações anticapitalismo, sendo proprietário de vários imóveis, que arrenda a preços inflacionados, e tendo uma frota de, pelo menos, quatro veículos topo de gama, nos quais se faz transportar até às imediações das arruadas.

E, mais uma vez, lá o vi, nos ecrãs da televisão, com o seu lenço palestino, a gritar pelos direitos à habitação e contra o perverso capitalismo. Desta vez não foi entrevistado, mas só a imagem e a ideia da existência de mais dissimulados como ele, é suficiente para fazer-me ferver o sangue.

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