domingo, 26 de maio de 2024

Diário do absurdo e aleatório 320 - Emanuel Lomelino

Por mais que tentem escamotear, no universo da escrita existe uma enorme diferença entre expectativas e realidade. Para além dessa máxima incontornável, quase nunca os cenários são exactamente como se pintam. O mesmo é dizer: raramente aquilo que se espera corresponde ao que se obtém.

Por outro lado, e porque aquilo que move os autores contemporâneos é muita coisa menos devoção à escrita, os leitores menos avisados – ou desatentos – acabam por comer gato por lebre pela forma hipnótica como os “produtos” lhes são escarrapachados nos focinhos e pela ofuscação propositada que os holofotes virtuais provocam.

De alguns anos a esta parte, a literatura tem vindo a ser preterida em detrimento de carnavais e circos de escrita, com os autores a submeterem-se ao papel de malabaristas - alguns com inusitada prepotência e falsa modéstia (porque acreditam ficar-lhes bem).

Já não se discute literatura. Ninguém fala de criação. Só existe apetência para a autopromoção, para o elitismo folclórico alicerçado na troca de favores e louvores, para o fogo-de-artifício fátuo que maravilha mais do que as letras.

Por tudo isto acredito que, hoje em dia, as tendas circenses são, maioritariamente, preenchidas por iletrados.

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