sexta-feira, 17 de maio de 2024

Diário do absurdo e aleatório 311 - Emanuel Lomelino

Embrulhado no desconforto agudo de mais uma manhã, observo o envelhecimento acelerado das mãos e sinto as correntes enfurecidas dos rios que pulsam em cada uma das veias, como houvesse uma urgência líquida a irrigar os novos desfiladeiros da pele.

Por momentos vejo a geografia dos poros e as contrações dermatológicas são proporcionais à assustadora dilatação obtusa dos dedos – gigantes cansados e doloridos – que gritam sensibilidade e incómodo.

Esfrego os mapas nascidos nas palmas, numa tentativa vã de acender novos focos de resistência, mas o calor emanado simplesmente serve para confirmar a perda de capacidade hermética causada pelas calosidades dos dias e pela erupção vulcânica das escaras que enfurecem à primeira fricção.

Neste processo descubro que as mãos já não servem para guardar segredos nem para fazer truques de magia.

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