domingo, 25 de agosto de 2024

Epístolas sem retorno 14 - Emanuel Lomelino

Manuel António Pina
Imagem pporto

 

Prezado Manuel,


Sempre tive curiosidade em saber as razões para o obscurantismo de alguns poetas.

Durante anos alimentei-me de percepções e, ingenuamente, admiti que pouco mais havia do que consentimento e vontade própria em ficar-se nas sombras.

Apesar de reconhecer uma mão cheia de exemplos dessa tese, onde o incluo, quanto mais embrenhado ficava neste universo da escrita mais rápido fui aprendendo quão impactantes os holofotes podem revelar-se na transformação de muitos autores, cujos caracteres, num processo de destilação da personalidade, veem esfumar-se a importância dos princípios e valores essenciais ao ofício, sobrando o álcool dos egos e vaidades.

Depois… bem, depois tudo é medido em amperes e, quanto mais lâmpadas iluminarem os palcos, maior é a ofuscação e menor é o crivo.


Em consciência,

Emanuel Lomelino

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