Os livros, tal como as conversas e as cerejas, estão sempre colados a outros. Descobri isto ao olhar atentamente para a minha biblioteca e ter visto Puchkin e Gogol em animada tertúlia com Camus e Pessoa. Noutra prateleira, Brecht e Celan concentravam olhares em Virgínia, Agustina, e nas irmãs Brontë.
Num canto mais resguardado, Proust, Benjamin e Todorov sussurravam críticas, como quem conspira literatura. Mais adiante, Almada Negreiros, de braço dado a Ramos Rosa e Torga, dissertava sobre poesia, como quem não sabe mais nada além de versos.
Wilde, com todo o vigor da sua juventude reciclada, olhava Botto com interesse redobrado, enquanto Ovídio, Plutarco, Horácio e Calvino tentavam descobrir as diferenças entre Vergílio e Virgílio.
Poe e Stevenson elogiavam Márai e Saramago, bem perto de Göethe e Nietzsche, que desafiavam Schopenhauer e Steinbeck, para deleite de Kant. Também vislumbrei o grupo de Tolstoi, Gorki, Nabokov e Dostoievski, a debater com Kundera, Marquez, Neruda e Natália.
Camilo, Dinis, Amado, Assis e Eça trocavam experiências, enquanto Vinícius e Ary ofereciam canções a Cecília, Sophia, Florbela e Natércia, que retribuíam com palavras meigas.
Cervantes, Dante, Shakespeare e Camões faziam vénias aos aplausos de Junqueira, Bocage, Drummond e O’Neill. Enquanto Baudelaire, Apollinaire, e outros franceses, viam peças de Gil Vicente e Pascoaes.
E mais não vou enumerar porque já ultrapassei o limite deste texto.
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