terça-feira, 2 de abril de 2024

Diário do absurdo e aleatório 195 - Emanuel Lomelino

Quando a manhã se acende num sorriso, a geada, afectuosamente, desmancha-se em lágrimas cintilantes, que o sol prestigia num afago morno.

No céu despontam os primeiros voos, num bailado de brisa e penas, acompanhados pela beleza sinfónica de um chilrear indefinido, nascido de gargantas irrequietas, contudo melódicas.

Há um gingar vaidoso nos passos mudos de um gato pardo, que atravessa o jardim florido, como quem festeja sete vidas preenchidas, apenas interrompido pelo rouco canto de um galo que anuncia a boa-nova.

De repente, com a pontualidade de um relógio suíço, todos os sons se evaporam para que o vento assobie na folhagem de uma laranjeira, libertando as fragrâncias cítricas e impulsionando o voo de uma alva mariposa.

Os sentidos estão a formigar de entusiasmo quando o despertador toca e a chuva, que bate feroz na janela, revela que tudo não passou de um sonho primaveril e a realidade, de mais um dia, é cinzenta como ontem.

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