sexta-feira, 5 de abril de 2024

Diário do absurdo e aleatório 212 - Emanuel Lomelino

Na aldeia, todos conheciam Abílio pela sua autoconfiança e abnegação. Em todos os projectos que abraçava, o nível de entrega só era comparável à esperança que depositava no sucesso da empreitada. E mesmo quando as coisas não funcionavam, o que acontecia maioritariamente, ninguém o via cabisbaixo ou entristecido. Logo enveredava por outros caminhos com a máxima determinação e positividade, como se tudo fossem flores.

Todos admiravam a sua capacidade de superação aos desaires, mas também sentiam pena que alguém tão firme e convicto tivesse mais fracassos do que sucessos. E mais pena tinham por ver que, a cada novo desafio, Abílio saia prejudicado, não por incompetência, mas por estar cercado de pessoas menos resolutas, de menor resistência às adversidades e que sempre roíam a corda, deixando-o arcar sozinho com as consequências.

Embora nunca se tivesse deixado abalar pelos inúmeros insucessos, bem pelo contrário, Abílio começou, pouco a pouco, a abdicar de ajudas externas, preferindo entregar mais de si do que depender dos demais. E isso porque, a experiência ensinou-lhe, por mais resiliente que alguém seja, de tantas pancadas sofridas, um dia a confiança capitula. Principalmente a confiança nos outros.

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