segunda-feira, 8 de abril de 2024

Diário do absurdo e aleatório 227 - Emanuel Lomelino

Ao longo dos anos tenho-me confrontado com muitos comportamentos que, analisados em detalhe, só prejudicam o universo da escrita. O exemplo mais flagrante é a criação de grupos elitistas – sendo que este elitismo literário varia entre grupos, mas impactua decisivamente nos percursos dos respectivos integrantes, para o bem e para o mal.

Para mim, a raiz deste problema é, mais do que uma questão de interpretação ou conceito de qualidade literária, uma demonstração clara de egocentrismo.

Ao contrário de épocas anteriores, em que os autores exerciam o seu ofício com conceitos filosóficos e criativos pré-definidos, de acordo com a corrente artística em que se reviam, hoje ninguém sequer reconhece esses movimentos e, apesar de criarem a mesma coisa, da mesma forma e com o mesmo objectivo, dividem-se em grupos distintos, mas com bases idênticas.

Por outro lado, e talvez o sintoma mais óbvio do egocentrismo apontado, hoje ninguém quer discutir conceitos e filosofias por necessidade em etiquetar as suas criações como expoente máximo da arte e, por essa razão, faz-se rodear por outros que, manifestando o mesmo desinteresse pelos movimentos artísticos, tampouco sabem identificar as diferenças (incoerências) existentes no seio do próprio grupo.

Haverá algo mais prejudicial para as artes do que a incapacidade dos criadores em explicarem as suas criações, para além de chavões pueris como: “expressão da alma”, “inspirado na vida”, “fruto de inquietações”?

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