quinta-feira, 11 de abril de 2024

Diário do absurdo e aleatório 246 - Emanuel Lomelino

E se existisse apenas uma estrela no céu, uma nespereira na terra, um cavalo-marinho no mar, uma pedra num só rio e as maçãs fossem alimento das víboras?

E se em vez de asfalto existissem apenas túneis de toupeira, um cachorro mudo, um papagaio viciado em café, uma enxada e uma prostituta low-cost?

E se chovessem rosas azuis, os prados fossem lilases, o sal soubesse a alfazema, o estrume cheirasse a Dior e o vermelho fosse caminho de cabras?

E se os pés tivessem guelras, as unhas nascessem nas pálpebras, se fumasse pelos cotovelos e os braços derretessem a cada aceno?

Se a natureza fosse absurdamente distinta daquilo que é, tal qual conhecemos, apenas restaria um par de coisas inalteradas: a beleza do pôr-do-sol e a tendência humana para a autodestruição.

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