quarta-feira, 10 de abril de 2024

Diário do absurdo e aleatório 239 - Emanuel Lomelino

Teotónio fechou a porta pela última vez, inspirou profundamente, pousou a caixa que tinha nas mãos e sentou-se no chão. Olhou em redor e pensou com os seus botões, mais para tentar convencer-se, que aquela seria a sua residência definitiva. Estava esgotado. Não por ter passado duas horas a carregar caixas até ao segundo piso, mas por ser a terceira vez, em três anos, que estava a mudar de casa.

Quase automaticamente, os seus pensamentos revisitaram os últimos trinta e seis meses da sua vida sem encontrar motivos que justificassem tão longo período de turbulência e instabilidade.

Tinham sido três anos de encontros e desencontros, altos e baixos, imprevistos repentinos, surpresas desagradáveis, enfim, uma miríade de episódios que se entrelaçaram como novelos emaranhados e que o enredaram de tal forma que o desespero quase levou a melhor.

Mas tudo passa e, pouco a pouco, com mais ou menos dificuldades, e muita resiliência, as pontas deixaram de estar soltas e voltou a sentir-se dono das rédeas da sua vida.

Apesar do cansaço que lhe corroía o âmago, Teotónio levantou-se e, decidido a ocupar a mente com positividade, começou a tarefa de desempacotar os seus bens mais preciosos para colocá-los nos respectivos novos lugares. E assim esteve entretido mais um par de horas, indiferente ao que o destino ainda lhe tinha reservado…

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