Prezado Poeta,
Já começa a ser um acto repetitivo, como todas as repetições que cometo na vida, mas que posso eu fazer, Fernando, se sinto que és o único a quem posso falar do alto das minhas esquizofrenias.
Na minha mente tenho toda uma biblioteca de assuntos pertinentes, dúvidas recorrentes, perguntas delirantes, e diálogos por fazer. E quando recorro a ti, através das diferentes personalidades de nós, soltam-se-me os adjectivos mais esconsos como fossem exemplos do mais nivelado saber.
Conversar contigo é uma forma, talvez a mais fácil e confortável, de tentar expurgar a incompletude dos meus raciocínios, tão menores que os teus, numa tentativa, porventura, vã, de engrandecer as minhas pobres virtudes criativas.
Mas sossega, Fernando heteronímico, que, com as devidas vénias, jamais me proclamarei teu discípulo, como muitos fazem – alguns de forma leviana e fraudulenta. Ao contrário desses, não caio na ilusão da fama indevida porque, tal como lembrou outro autor, que também não é meu mestre, mas admiro – Victor Oliveira Mateus – a fama pouco mais é do que uma estátua de bronze onde os pombos depositam meticulosamente os seus dejectos.
E até nisto, Fernando, tu és único, pois o teu bronze foi colocado numa cadeira para descansares e destacaram alguém para te lustrar todos os dias de modo a estares perfeito em todas as selfies.
Simplesmente
Emanuel Lomelino
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