domingo, 2 de março de 2025

Prosas de tédio e fastio 8 - Emanuel Lomelino

Prosas de tédio e fastio 


8


Por razão do ofício de escrita, que me move e onde me cumpro, elaborei alguns mecanismos auxiliares de autodisciplina, que permitem adquirir o máximo de conhecimento possível e, simultaneamente, filtrar as informações essenciais para as minhas criações.

A ideia base assenta na premissa de que os autores devem conhecer profundamente todas as vertentes e nuances da sua arte, inclusive as que são contrárias ou opostas aos seus próprios conceitos.

Sendo evidente que cada autor deve assumir as características mais adequadas ao seu labor individual, não deixa de ser interessante conhecer os diversos modelos de composição, mais não seja para, com outra propriedade, poder expressar na sua arte os motivos pelos quais se é contracorrente.

Por outro lado, e seguindo a velha máxima “o saber não ocupa lugar”, ter um entendimento mais vasto do seu próprio universo permite ao autor um maior leque de ferramentas que, por sua vez, pode funcionar como estímulo à criatividade.

Esse conhecimento também pode ser aproveitado para meros exercícios de escrita, como o que agora termino, e no qual decidi dissertar sobre esta temática, da forma suscita e mais fluída possível, adicionando o extra, irrelevante, de fazê-lo em cinco parágrafos, terminando todos com uma palavra iniciada com a letra “C”.

sábado, 1 de março de 2025

Prosas de tédio e fastio 7 - Emanuel Lomelino

Prosas de tédio e fastio 


7


Neste tempo, em que a ignorância ocupa quase todo o espaço das mentes, os “moicanos” são aqueles que buscam conhecimento.

Em muitos, esta fome de saber revela-se insaciável. Torna-se uma obsessão tão imprescindível quanto o acto de respirar.

E agora que escrevo estas linhas, que tinham o propósito de enfatizar a importância de todo e qualquer saber, independentemente da utilidade prática, ou ausência dela, fixei-me no substantivo “obsessão” e sinto necessidade de dissertar sobre ele, tendo em conta que é usado como depreciativo quando se refere a alguém com uma ideia fixa ou comportamentos repetidos.

Dentro do universo do “livroólicos”, onde se incluem os “moicanos” referidos no primeiro parágrafo, a obsessão manifesta-se quando o número de livros adquiridos está acima das reais possibilidades de leitura.

No entanto, para efeitos deste texto, a questão deve ser observada num outro prisma: por conta da ignorância global, todo e qualquer ser que declare o seu entusiasmo pela leitura e o coloque em prática – adquirindo livros (mesmo de forma, digamos, moderada) – é adjectivado como obcecado.

Posto isto, não tenho outra alternativa que não passe por confessar-me, orgulhosamente, um viciado em livros, impulsionado pela minha obsessão de conhecimento.

Quanto à questão da utilidade do saber… bem, essa fica para outro texto.