terça-feira, 4 de março de 2025

Epístolas sem retorno 27 - Emanuel Lomelino

Albert Camus
Imagem pinterest

Caro Albert,


Amaldiçoo, com toda a força da minha revolta escriba, esta malfadada sina que, desde o princípio dos tempos, e transversal a todos os tempos, se concretiza em indiferença, na plenitude da sua letalidade, no âmago dos trovadores, por mais avisados e diligentes que sejam e se construam.

Contesto, com toda a pujança do meu estro insurreto, este infeliz fadário que, desde a génese da existência, e apenso a todas as existências, se legitima mortífero, na totalidade do seu descaso, no espírito dos bardos, por mais prudentes e aplicados que sejam e se revelem.

Esta repulsa nasce da injustiça que observo sempre que perece um vate. Como se, ao sucumbir, todos os impropérios, acusações, linchamentos e menosprezos que lhes foram dirigidos, em vida, não passassem de traquinices chistosas daqueles que, no luto, discursam lamentos chorosos, contudo, isentos de lágrimas.

Os poetas transformam o mundo. Os ociosos, entre preguiça e inércia, não têm tempo para mudar o mundo porque o gastam a crucificar a existência dos poetas e a vangloriá-los após a morte. A pergunta eterna é apenas uma: de que servem os louvores na passagem para outro plano?


Vociferando

Emanuel Lomelino

Sem comentários:

Enviar um comentário