terça-feira, 31 de agosto de 2010

Mais um dia acaba

Mais um dia acaba, ó rotina extenuante
tudo foi igual, sem novidade relevante
eis a sina cruel de quem faz pela vida
num ritmo diabólico, direi alucinante
um corpo dorido, uma dor dilacerante
e uma alma vazia há muito esquecida

Mais um dia acaba, em tudo rotineiro
o último minuto idêntico ao primeiro
nada de novo no reino da Dinamarca
e isto porquê? Pelo precioso dinheiro
que mal chega, logo parte sorrateiro
por isso a riqueza nos bolsos é parca

Mais um dia acaba e a solidão aparece
estado d'alma que nunca me esquece
e que teima ser a minha companheira
e os dias passam e o corpo envelhece
mais uma ruga, o cabelo embranquece
e a mente prega partidas, traiçoeira!

Mais um dia acaba e a surpresa vem
quando do nada me apareceu alguém
que me acarinha, então volto a sorrir
um mero gesto a valer mais de cem
tremenda a amizade que ele contém
e da qual jamais poderei prescindir

Mais um dia acaba e foi um bom dia
confesso que melhor eu não pediria
para trás das costas ficou a amargura
há gestos encantadores, viva a magia
que o gesto de amizade me propicia
e enche este meu coração de ternura

Mais um dia acaba e eu não esqueço
que uma bela amizade não tem preço
e não se paga por carinho e simpatia
esta camaradagem só está no começo
e como as amizades jamais agradeço
retribuo o teu gesto com esta poesia

Este poema é dedicado à minha querida amiga REGINA RAGAZZI pelo gesto carinhoso e simpático que teve comigo no dia de hoje.

domingo, 29 de agosto de 2010

Não há poeta

Não há poeta cuja mão não trema
ao dar vida à sua própria criação
só um poeta vocifera e blasfema
na sempiterna busca da perfeição

Não há poeta que use por emblema
falta de génio, de alma e de razão
porque a poesia jamais será dilema
mesmo nos versos sem expressão

Não há poeta que renegue a poesia
e tampouco quem dela se desfaça
por mais que a palavra diga o oposto

Não há poeta que creia ser heresia
dizer: O poema é filho da desgraça
e um poeta só o pode ser por gosto

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Traição

Tenho um músculo traidor no peito
que toda a vida pensei me fosse fiel
acabou por demonstrar ser imperfeito
na sua batida regular mas vil e cruel

Foi tremendo o dano e atroz o efeito
mais marcante que cicatriz na pele
não sei se da surpresa ficarei refeito
pois a traição sempre me soube a fel

As lições que a vida me dá, eu aceito
e o destino não se recusa nem repele
se ele assim traiu, está no seu direito
e afinal de contas é esse o seu papel

Mas tenho de denunciar esta traição
cometida por um músculo; o coração

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Sem perdão

Mesmo distantes, no tempo e no espaço
bem vivas, mantém-se as memórias de ti
entretenho o meu rosto no teu regaço
que só foi meu porque um dia eu parti.

Grito ao mundo - Amo-te! - sem embaraço
e quantas mil vezes, de te ter, eu desisti
fico na saudade de te guardar num abraço
apenas miragem do corpo que não senti.

Vivo na ilusão de um amor; eterno cansaço
mas não deixei de te amar, tal não permiti
deste sonho de amor não me desembaraço
apenas me acuso de um amor que omiti.

E por calar um amor sofro de vil solidão
silêncio covarde que não merece perdão.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Sentimentos que calei

Pudesse eu o passado alterar
e riscar o que não me satisfaz
refazendo tudo sendo audaz
ao passado eu queria regressar

Pudesse eu a cobardia eliminar
se de tal proeza eu fosse capaz
então recuaria alguns anos atrás
e de amor teria muito que falar

Como no tempo não sei mexer
ao passado eu jamais voltarei
e o destino não posso inverter

Soubesse então o que hoje sei
o que sinto nunca iria esconder
como os sentimentos que calei

domingo, 22 de agosto de 2010

Anjos e Querubins

Nasci humano mortal
mas sou filho de um Deus menor
que nos degraus do Olimpo
zela por mim.
Sempre que perco o ânimo
envia membros do seu exército
em meu socorro
e o meu Céu volta a ser azul.
Cada vez que a tristeza me invade
em meu auxílio aparecem anjos
de rostos alvos e sorrisos brilhantes.
Quando a nostalgia me aprisiona
oiço as harpas dos querubins
e o meu Sol ganha novo brilho.
Toda a vida foi assim.
Sempre rodeado de anjos e querubins
que me desviam dum negro destino
que iluminam as trevas onde caminho.
Sempre vivi rodeado de anjos e querubins
e aprendi a amá-los
do mesmo jeito que me amam.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Desalento

O cansaço dos dias acumula-se
e para além do corpo
também a mente está saturada.
As forças vão faltando
o ânimo vai desaparecendo
já nada parece fazer sentido.
Nestes momentos sem alento
valem-me as imagens dos dias azuis
dos instantes de Sol risonho
noutras Primaveras.
E a música de Prince.

sábado, 14 de agosto de 2010

Caminhos 5 - A barca de Caronte

Quando deixei estes Deuses irmãos à beira mar
segui o meu calvário, pus meus pés ao caminho
parti na certeza de por mim ficarem então e zelar
ficaram no meu coração "Nunca ficarás sozinho"

Caminhei por montes e vales, de noite e de dia
até o cansaço ser muito e falar bem mais alto
muitos os rios que atravessei, fiz a travessia
subi e desci montes para acampar num planalto

Não vos sei mesmo dizer quantas horas eu dormi
mas há muito que não dormia assim tranquilo
ao acordar fiquei pasmado com o que então vi
não acreditei nos meus olhos "O que é aquilo?"

Na minha frente estava um velho esfarrapado
que olhava para mim com demasiado interesse
à beira do rio tinha um simples bote atracado
fui ao seu encontro sem que nada me dissesse

"Quem és tu ó velho barqueiro" inquiri curioso
ao que simplesmente respondeu "Sou Caronte"
era velho, muito velho, diria mesmo muito idoso
"Trabalho neste rio que abarca todo o horizonte"

"Porque não entras no meu barco? Anda, vem"
"não sai muito cara esta derradeira viagem"
perguntei " Vais já partir? Não há mais ninguém?"
"o que posso eu querer ver na outra margem?

Caronte não sabia ou não me quis responder
mas a resposta há muito tempo já eu a conhecia
este é o transporte para quem acaba de morrer
e conhecer o profundo Hades eu ainda não queria

"Ainda é cedo para essa travessia eu poder fazer"
"a minha vida não acabou, espera-me melhor"
Caronte perguntou "Que estás tu para aí a dizer?"
respondi "Nada digo. Sou filho de um Deus menor"

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Caminhos 4 - O choro de Apolo

Passado que estava o momento embaraçoso
a doce Deusa Ártemis logo me explicou
os porquês do seu súbito estado nervoso
"Foi o meu querido irmão Apolo que passou"

Senti alguma preocupação no divinal rosto
mas não perguntei absolutamente nada
li na sua face um incontornável desgosto
a minha formosa Deusa estava perturbada

Limitei-me a seguir os seus celestiais passos
em silêncio, atrás de Ártemis eu caminhei
chorava a Deusa, ouvi-a soluçar a espaços
por amor à bela Ártemis, também eu chorei

Pressenti uma história, sem saber o enredo
por fim senti chegado o nosso objectivo
um calafrio percorreu meu corpo, era medo
junto ao mar estava Apolo, eis o motivo

"Não temas" avisou Ártemis com confiança
"Junto a mim estás seguro" confiei cegamente
Apolo chorava como uma imberbe criança
deixei de vê-lo como Deus, vi-o como gente

"Porque choras meu querido e excelso irmão?"
"que mal aconteceu para tua celeste tristeza?"
Apolo demorou a responder para sua aflição
e quando respondeu utilizou uma certa dureza

"Maldito Zéfiro, filho ignóbil de Deus profano"
"é ele o causador deste choro e do meu brado"
e a mim disse:" Não te quero mal a ti humano"
"choro assim por ter perdido um mortal amado"

Tranquilo disse-lhe:" Pela tua perda muito sinto"
"de quem falas tu ó sublime Deus?" perguntei
"Falo de um jovem muito belo chamado Jacinto"
"que por culpa desse vento maldito, eu matei"

"Descansa irmão que Jacinto será lembrado"
disse Ártemis conseguindo aplacar-lhe a dor
"No local onde morreu, seu sangue derramado"
"nascerá de novo o teu Jacinto, uma nova flor" 

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Caminhos 3 - Momento embaraçoso

Caminhei por mil reinos desta terra
poucos foram os que me deram guarida
atravessei regiões sempre em guerra
onde a paz não existe sendo querida.

Ártemis esteve sempre do meu lado
mesmo quando mais ninguém a via
e sendo eu, por inimigos, capturado
nunca deixei de ter a sua companhia

"Porque me acompanhas Deusa formosa?"
perguntei-lhe um dia, após uma batalha
"Apenas porque sou uma Deusa teimosa"
"que não se atemoriza quando Zeus ralha"

"Sou um pouco como tu, ó bravo mortal"
"simpatizo contigo só por seres valente"
estas palavras fizeram-me sentir especial
"O que me dizes deixa-me muito contente"

"Esconde-te em minhas vestes" gritou ela
assim o fiz por sentir toda a sua urgência
agarrei-me ao seu corpo sob curta farpela
a visão que tive quase me levou à demência.

A minha condição de mero humano mortal
nunca se fez sentir com tamanha intensidade
estando eu encostado a um belo corpo fatal
não há homem que aguente, essa é a verdade.

"O perigo já passou" sussurrou " Podes sair"
rubro de embaraço, às suas ordens obedeci
"Tens a carne fraca" acusou sempre a sorrir
não disse uma só palavra e apenas enrubesci.

"Não te acanhes por sentires em ti o desejo"
"mas desilude-te, meu destino é a castidade"
sorriu-me docilmente e soprou-me um beijo
achei-me feliz apenas por sentir a proximidade.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Caminhos 2 - Adeus Hércules! Olá Ártemis!

Conheci Hércules quase no fim da sua vida
muito depois dos doze serviços a Euristeu
foi-me muito difícil superar a despedida
ver um amigo queimado na pira que concebeu.

Mas a sua violenta morte foi apenas o início
após ser cremado, ganhou a imortalidade
depois do Equinócio vem sempre o Solstício
em mim ficou a recordação e a amizade.

Confesso que fiquei um pouco perdido
nas minhas palavras até eu próprio me enrolo
vagueei por este mundo fora, algo aturdido
até encontrar Ártemis, Deusa irmã de Apolo.

"Quanta sensualidade em vestes de caçadora"
pensei quando a casta Deusa se apresentou
"Agora serei eu a tua guia protectora"
afagou-me o rosto onde um beijo depositou.

"Não julgues que será mais fácil para ti"
"o resto da tua cruzada neste eterno degredo"
perante estas palavras apenas lhe sorri
"Junto de ti Deusa, jamais sentirei medo".

Ela riu, como uma Deusa deve sempre rir
devolveu-me o sorriso e puxou-me pela mão
"Vem, chegou a hora da viagem prosseguir"
"aceleremos o passo, vem aí o meu irmão".

Olhei em redor e não vislumbrei nenhum Deus
mas confiei na hora no que Ártemis me dizia
"Podes olhar, mas fracos são esses olhos teus"
afirmou convictamente, atrás dela eu seguia.

"Para mortal tens demasiada ousadia e coragem"
"desafiaste todos os Deuses sem algum receio"
"por isso sofrerás durante toda esta viagem"
"e ainda nem sequer chegaste perto do meio".

Eu escutei com atenção a sua melodiosa voz
e em silêncio pensava na sua divina beleza
"Como ousaste fazer frente a todos nós?"
"tu és mais fraco, mas admiro tua destreza".

Dito isto enrubesci, mas a viagem prosseguiu
Eu e a belíssima Deusa Ártemis, lado a lado
par igual nunca no mundo alguém viu
uma Deusa faladora e um mortal calado.

domingo, 1 de agosto de 2010

Caminhos - Introdução

Sou filho de um Deus não referenciado
por esse motivo caí na ira da divindade
pelo tribunal do Olimpo fui condenado
o próprio Zeus me negou a felicidade

"Segue o teu próprio caminho ó mortal"
Gritou-me Apolo com funesto desdém
como se a minha vida lhe fizesse mal
e o meu pai celestial não fosse ninguém

Fiz-me à estrada sem qualquer rancor
"Quem precisa dos Deuses?" pensei
"Vou em busca de um grande amor"
"P'ró Inferno este Olimpo sujo" gritei

Ainda ouvi as gargalhadas celestiais
nunca olhei para trás, segui em frente
"Ao real Olimpo não voltarei mais"
"Não me merece, este tipo de gente"

Zeus ouviu todos os meus pensamentos
pressentiu em mim uma notável atitude
aumentaram então os meus tormentos
"Talvez assim ele compreenda e mude!"

Em meu auxilio veio Hércules mortal
deu-me o apoio que eu mais precisava
a sua companhia fez-me sentir especial
só tinha um defeito... nunca se calava

Juntos andámos pelas terras deste mundo
combatemos, lado a lado, mil mafarricos
transpusemos um érebo sujo e profundo
onde ardem, em lume brando, os ricos

Bebemos e ceámos em imundas tavernas
saboreámos iguarias em reinos encantados
pernoitámos em palácios e em cavernas
pelos Deuses fomos seguidos e vigiados

Desde então vivi mil inusitadas aventuras
estou mais que preparado para vos contar
peripécias cómicas e momentos de tortura
feitos heróicos e outros de envergonhar

Conheci Deuses de diversas civilizações
por vezes o mesmo com nomes diferentes
vi-me envolvido em revoltas e revoluções
privei com Reis, Imperadores e indigentes