domingo, 1 de novembro de 2009

Vida de Lisboa

Caminho ligeiro pelas ruas de Lisboa
cruzo-me com toda e qualquer pessoa
este que tosse, aquele ali que se assoa
gente de Alfama, Graça, Alvito, Madragoa
gente simples numa cidade que não destoa
onde o silêncio nem na noite ecoa.
Há quem ande perdido ou simplesmente à toa
ouve-se um ou outro grito que ressoa
não pode ser coisa boa
uma mãe defende o filho como uma leoa
ataca o assaltante e não lhe perdoa.
Há quem coma peixe frito com broa
para sobremesa uma suculenta meloa
como digestivo uma voz que fado entoa.
Uma pomba branca que no céu voa
no rio navega uma frágil canoa
cuidado pescador com a sua proa
não estás numa regata na lagoa
olha que esse petroleiro te abalroa.
Se afundas, que vais dizer à tua patroa?
Aquela que em tua casa é rainha sem coroa.
Aquela que a tua cevada matinal coa
desde o teu regresso de Goa.
Aquela que por ti eternamente se magoa
e no mercado, o que pescas apregoa
na sua voz de varina que tão bem soa.
Aquela a quem tu dedicaste a singela loa
e reza para que a tua vida não se escoa.
A tua morte talvez lhe doa.
Evita, portanto, que essa noticia a moa
e alguém lhe diga: - O seu marido amou-a.
O titulo original deste meu poema é "Exercicio II" e faz parte de uma trilogia de poemas que me serviu de exercicio rimático.

3 comentários:

  1. Imagens passam em nossa mente sobre a solidão na cidade.Tanto movimento ao olhar do poeta,extrai o cotidiano de uma forma intensa e bela!


    Abraço!

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  2. Que Lindo! Lembra um fado...
    Meus aplausos!

    Beijo.....

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  3. Gostei deste exercício rimático...beijos.
    'o céu se enevoa e não pára Lisboa...'

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