sexta-feira, 24 de janeiro de 2025

Epístolas sem retorno 24 - Emanuel Lomelino

Eduardo Lourenço
Imagem gradiva

Ilustre Eduardo,


De forma simples, observando o quão supérfluo é o pensamento deste tempo, ninguém mais fica incomodado com as homenagens sensaboronas feitas ao nosso vate maior. São enxurradas de desrespeito linguístico, estilístico, poético e lírico que, apesar de serem feitas na melhor das intenções, nada possuem de louvor, tributo ou consagração, porque aos, chamemos-lhes, “celebradores” falta estro e conhecimento camoniano mínimo. Contam-se, pelos dedos de uma mão amputada, aqueles que, com honestidade intelectual imaculada, conseguem ver no espólio camoniano a riqueza que a totalidade da sua obra outorgou às letras lusas. Os demais (maioria esmagadora) dividem-se em três grupos: os que apenas lhe conhecem o nome e Os Lusíadas, mesmo nunca o tendo lido; os que leram a poesia épica por obrigação e, talvez por isso, nunca se inteiraram da dimensão universal de tal espólio; e aqueles que também leram a lírica, mas decidiram politizar (destros e canhotos) as meadas que mais lhes convém, como se a realidade do pensamento seiscentista tivesse aplicação legítima neste século XXI.

Não ficaria mal, a qualquer integrante dos três grupos que enunciei, limitar-se a celebrar Camões com a mera difusão da sua obra. Acredito que as letras lusófonas agradeceriam e o Luís Vaz descansaria mais tranquilo.


Nesciamente,

Emanuel Lomelino

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