Papaguear cultura
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Por vezes, nos momentos de ócio, dou por mim a questionar a importância das palavras que gravo, com força desmesurada, nas pobres folhas brancas que coloco diante dos olhos.
Nesses instantes de lassidão e desinteresse, revejo tudo o que escrevi e deixo que a dúvida se instale no mais recôndito espaço da mente, como quem recheia um qualquer doce conventual.
As perguntas sucedem-se, frenéticas, sem encadeamento lógico ou propósito definido. Simplesmente materializam-se como quem nos visita de forma aleatória e sem motivo.
Mesmo podendo esclarecer a origem de cada texto, não consigo explicar a impetuosidade, quase violenta, com que firmo cada letra no corpo de papel, como irradiasse uma fúria incontrolável e desmedida.
Não tenho sido capaz, talvez por falta de habilidade, de encontrar uma justificação coerente para essa atitude desproporcional, nem sei se algum dia conseguirei.
Quanto à questão inicial, se houvesse um mínimo de valor naquilo que escrevo, jamais teria discorrido sobre a forma exaltada como o faço.
Resta-me continuar a fazer como até aqui e seguir o conselho do poeta W. D. Roscommon: escreve com fúria, mas corrige com fleuma.
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