sábado, 23 de novembro de 2024

Crónicas de escárnio e Manu-dizer 18 - Emanuel Lomelino

03-09-2023


Não se pode ter horror da morte sem a experimentar. Não se deve ter pânico da morte por desconhecimento. Sabendo da sua existência, e tendo a consciência tranquila, não é lógico temê-la.

Não se podem recear as mordidas dos necrófagos nem o triturar dos ossos pelas suas potentes dentadas. Não se deve ter pavor do desmembramento que fazem, na hora de devorar os corpos inertes e sem vida.

Não sei nada sobre a morte, para além do seu carácter definitivo. Por isso não lhe tenho medo.

Sei que Lavoisier tinha razão quando disse: …Na natureza nada se perde, tudo se transforma, por isso tampouco temo os necrófagos.

Aquilo que me faz transpirar a espinha, arrepiar os ossos e descrer da justiça divina, são os abutres. Esses têm o dom de cheirar, à distância, o sangue dos golpes recentes e, sem esperarem a morte, estão sempre prontos para aproveitarem as fragilidades e alimentarem-se das feridas ainda por cicatrizar.

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