segunda-feira, 17 de junho de 2024

Diário do absurdo e aleatório 342 - Emanuel Lomelino

A questão é polémica, apenas e só, porque se transforma facilmente num argumento usado por cabeças ocas ou com intensões malévolas.

É propalada em discursos políticos demagogos e, dependendo do orador (e dos seguidores não-pensantes) pode frutificar nas massas, bastando para isso associá-la a outros assuntos, sobre os quais pouco ou nada se diz e faz.

Portugal é um país racista?

Os de direita são… com os imigrantes pobres. Os de esquerda são… com os imigrantes ricos. Os ricos são… porque empregam imigrantes pobres. Os pobres são… porque trabalham em empresas de imigrantes ricos. Os ricos são… apesar de fornecerem produtos às lojas dos imigrantes. Os pobres são… apesar de se abastecerem nas lojas dos imigrantes.

Sim, Portugal é um país de tradição racista, como demonstra o facto de a Dona Rosa (octogenária caucasiana minhota e analfabeta), que anda sempre com as palavras “preto”, “lelo”, “chinoca” e “monhé” na ponta da língua, ser a mais querida do bairro, por brasileiros, romenos, moldavos, africanos e asiáticos, que sempre lhe oferecem alguma coisa, ou o facto de duas crianças de colo, uma bengali e outra paquistanesa, quando a veem quererem logo ir para os seus braços.

Aos ouvidos de algumas “damas ofendidas”, os comportamentos linguísticos da Dona Rosa são demonstração de racismo. Aos olhos dos imigrantes, que com ela interagem, as suas atitudes inclusivas, de acolhimento e afecto, são a mais pura prova de que, quando não existem interesses para além de humanidade, as diferenças não existem.

Sem comentários:

Enviar um comentário