Há uma fragrância almiscarada a perturbar as pálpebras húmidas de desencanto. Um doce odor de verde-feiticeiro que se prolonga no horizonte oculto, como a magia da claridade diurna de um dia pardacento.
Há um suave perfume de velhas orquídeas, pálidas e plácidas como hidromel requentado. Uma essência sem músculo, mas dotada de força e energia retumbante, que prende, como grilhetas enferrujadas, os sentidos desprevenidos e insonsos.
Há um aroma maduro de intensidade que se espalha na morna brisa de um verão escondido. Um bálsamo tão hipnótico como soporífero, que impregna de dúvidas a mente mais avisada – tal qual um narcótico amanhecer.
Há uma preguiçosa emanação furtiva que impede as vistas curtas e cansadas de alcançarem o mínimo vislumbre perene de uma miopia desacordada, como quem se omite, conscientemente, das funções mais mundanas – porque despreparados são os ofícios da inocência.
Há, no ar, uma pestilência omnipresente, com requintes sombrios e inoportunos, que toldam a razão sem remorso pelos danos causados, como se a visão de um espírito peregrino não conseguisse, por si só, vaguear entre curtumes e incertezas, na desafiante estrada que redemoinha a cada novo despertar.
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