terça-feira, 22 de outubro de 2013

NATÉRCIA FREIRE

Quando chegar a hora do anoitecer
e os postigos dos olhos relaxarem
tenho a certeza que vou adormecer
abraçado ao crepúsculo do crer
mesmo depois de me encerrarem.

Visitarei o porto da minha descrença
ao barqueiro Caronte pedirei licença
mas recusar-me-ei embarcar
se a travessia for tumultuosa
a barca ser distante de luxuosa
e não ouvir os querubins a cantar.

Pela viagem não pagarei um tusto
a mim não se aplicará cobrança
não atravessarei a qualquer custo
para arrelia já bastou o susto
de jamais viver em abastança.

E se Caronte insistir no pagamento
direi que verdadeiramente lamento
mas nem obrigado irei pagar
só embarcarei estando tudo a gosto
eu nunca fiz o que me foi imposto
não pisarei a barca para lhe agradar.

E se no limbo que não acredito
eu tiver de permanecer eternamente
não darei o dito pelo não dito
mesmo que me chamem impertinente.

Poema extraído do meu livro POETAS QUE SOU - Lua de Marfim - 2013


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