terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Depois do poeta c/ Ana Coelho


Poderá um poeta
viver longe da palavra?
Sobreviverá a palavra
à inquieta mente do poeta...
que a reinventa
movimenta e ilude
em pedaços de veludo
que o olhar toca
no tacto da sublime
sensibilidade que cada observar
talhará a mesma palavra
depois do poeta a libertar
nas hostes de uma folha dobrada
nas páginas do volume
que acomodará ao limite da eternidade
de um céu sem terra
de uma terra
onde o pó será uma folha amarela!
 
Suportará um poeta
a ausência da palavra?
Poderá a palavra
resistir à morte do poeta
que lhe deu vida
guarida e abrigo
em versos de papiro
que o tempo conserva
nas gavetas do conhecimento
numa história infinita
de capítulos incompletos
que se renovam a cada passo
Saberá a palavra
sobreviver sem o poeta
que lhe legou a imortalidade
nas estrofes que enriquecem
as bibliotecas de Babel
de uma memória viva?

Poema retirado do meu livro LICENÇA POÉTICA [duetos lomelinos] - Lua de Marfim - 2011

domingo, 27 de janeiro de 2013

Nada mais c/ Vera Sousa Silva

Dedico esta postagem à minha grande amiga e poetisa VERA SOUSA SILVA que hoje dia 27 de Janeiro festeja o seu aniversário, com votos de um dia muito feliz cheio de amor, paz e saúde. Parabéns poetisa!
 
Busco a paz nos teus olhos
e repouso no teu beijo
carente de ternura.
Num abraço há um poema
perfeito
respirado nos corpos.
Vivemos poesia
e nada mais sobra
para além do amor.
 
Quero a serenidade dos lábios
onde me vejo deitado
vazio de ânsias.
Num beijo há um verbo
intemporal
conjugando vontades.
Somos poesia
e nada mais existe
para além de nós.

Poema retirado do meu livro LICENÇA POÉTICA [duetos lomelinos] - Lua de Marfim  2011

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Se o mundo... (inédito)

Se o mundo rodasse ao contrário
e o tempo só andasse para trás
seria eu um pouco mais audaz
ou apenas fruto do imaginário?
 
Se o mundo fosse mais solidário
e de mostrar amor fosse capaz
realizaria o meu sonho de rapaz
ou continuaria também solitário?
 
Se o mundo fosse como o quero
o seu brilho seria bem diferente
a sua luz daria cor à minha vida
 
Mas não é, e assim eu desespero
sou apenas um entre tanta gente
a viver a solidão não pretendida

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Os pássaros que nos habitam c/ Ausenda Hilário


Prometi falar-te das asas
dos pássaros que nos habitam
das penas que são casas
e dos ventos que as agitam

Nos uivos do vento, escuto
o frágil pulsar do ninho
mas o meu medo é diminuto
se o vento chegar sozinho
 
Sossegarei alegrada pelo pio
de um Pintarroxo cantor
que ousa cantar ao desafio
estrofes do nosso amor
 
Numa promessa de quimera
voa a pique a bela Cotovia
pousa nos versos da Primavera
guiada pelos ventos da poesia
 
Em marés de telúrica vontade
fulgem poemas ao Sol-posto
abrindo as asas à liberdade
somos Corujas em Agosto
 
E na paz de um vento amainado
adormece um nocturno Mocho
na insónia de um pássaro acordado
que entoa ao desafio do Pintarroxo

*Poema retirado do meu livro LICENÇA POÉTICA [duetos lomelinos] - LUA DE MARFIM 2011

sábado, 19 de janeiro de 2013

Amo (2010)

Amo esse sorriso do teu rosto
Assim feliz, bem a meu gosto
Como é bom sentir-te contente
Sabes o quanto isso me apraz
Gostava também de ser capaz
E mostrar-me assim sorridente

Amo esse teu olhar embriagado
Sabes que me deixa enfeitiçado
Como é bom sentir esse feitiço
Soubera o meu olhar ser igual
A esse teu jeito muito especial
Mas meus olhos não fazem isso

Amo a tua pele e sua brancura
Derme que me leva à loucura
Nunca entendi o que aconteceu
Pele tão casta como a dos anjos
A tocarem sinos, harpas e banjos
Enquanto minha pele escureceu

Amo tua bela voz de querubim
Escutar-te-ei sempre até ao fim
De te ouvir jamais me cansarei
Falas com tanta ternura na voz
Eu imagino um futuro p’ra nós
Mero sonho e devaneio, eu sei

Amo o teu vigor e a tua chama
Enquanto este coração reclama
Por eu te amar assim tão forte
De te ter não perdi a esperança
De ti resta apenas a lembrança
Que me conduzirá até à morte

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

A quinta fase da lua c/ Manuela Fonseca

Atravessei o vale da noite
Com a alma pendurada no olhar
O sorriso amarrado à cintura
Nas pernas o tombo do cansaço
De quem bebia à volta do prato
E picava as migalhas
Sob um convite lunar
 
Quando os cabrões me deixaram
Os restos mortos de um planeta
Meditei-me na intensa escuridão
Sobre o sossego espaçado
Da quinta fase da lua
Insanidade profetizada
A erigir bandeiras
De palavras prostitutas
 
Isenta de afectos
Reapareci-me
Nessa quinta fase
De uma lua ignorada
Efeitos colaterais
De Lugares Santos.
 
Naveguei nos trilhos do crepúsculo
Mordendo o pó dos caminhos proibidos
Sorvendo das pedras o desejo estéril
Alimento para as almas refugiadas.
Sob o brilho da lua pagã
Abracei-me ao pensamento
No breu do Nirvana
 
No desapego do afecto inteligente
Furtei as raízes do sentimento
Usurpei a consciência do espaço.
Num estupro de palavras
Alucinei a razão do sentir
E morri-me em gritos surdos
No frágil tempo nocturno
De um terreno fértil de loucura.
 
Vazio de crença
Transformei-me
Numa esfíngica construção
Temperada no fogo
Da quinta fase da lua
Qual Fénix renascida.

Dueto extraído do meu livro LICENÇA POÉTICA [duetos lomelinos] sob chancela LUA DE MARFIM - 2011

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Liberdade de expressão (2010)

Há coisas que não se devem dizer?
E por que havemos de ficar calados
Quando nos querem ver embuchados
C’os sapos que não devemos comer?

Não me criem limites p’rá liberdade
Não vos admito tamanha intromissão
Mesmo se do meu lado não há razão
Tenho direito à minha expressividade

Já lá vai o tempo, o tempo da censura
E na carne, nossos pais sofreram isso
Mas nos dias d’hoje já demos sumiço

E na democracia não existe ditadura
A todos os velhos do Restelo, atenção
Não abdico da liberdade d’expressão

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Vontade (2011)


Ai que vontade!
De te sussurrar montes e vales
numa promessa de tempo
deitados num mar de golfinhos.
Ai que vontade!
De te falar das minhas fases de lua
e ouvir os teus cantos de céu
nas vozes trémulas dos anjos.
Ai que vontade!
De perder toda a consciência
no leito macio de um bosque
e aí depositar um beijo quente.
Ai que vontade!
De me fundir em ti num abraço eterno.
Percorrer as estradas do teu corpo
como um vagabundo sem mapa.
Ai que vontade!
De deitar a cabeça na fonte do teu ventre
deixar-me afogar na tua seiva
e respirar a vida pela primeira vez.

domingo, 13 de janeiro de 2013

Da tua boca (inédito)

Da tua boca quero um beijo, estou sedento
não existe sede que eu mais queira saciar
dos teus lábios, amor, sorvo o meu alento
e o alento dos teus beijos só tu podes dar

Da tua boca não vem nada, como lamento
que triste é, os teus lábios, eu jamais tocar
feliz seria eu se viesse esse feliz momento
e teus lábios a minha boca viessem beijar

mas a tua boca anda bem longe da minha
e em outra boca tem depositado os beijos
que esta minha boca tanto anseia e deseja

Por isso a minha boca aos poucos definha
e dela apenas se podem ver meros bocejos
como é triste ter uma boca que não beija

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Um dia (inédito)

Um dia, quando despertares da letargia do sono
e te lembrares da poesia que respirámos juntos
recorda com saudade o meu acordar rubro
e a minha resistência em ser poeta pela manhã.
Um dia, quando te libertares da felicidade do sonho
procura no azul-celeste da tua memória viva
os versos doces que quis escrever no teu corpo
e sente o sal que os meus olhos derramaram
sobre as imaculadas folhas de papel virgem.
Um dia, quando sentires a dureza dos caminhos
e quiseres sarar as cicatrizes da tua existência
reaviva os verdes momentos de esperança
daquelas palavras escritas que um dia te dei.
Um dia, quando confessares a tua essência
e essa verdade que sempre viveu em ti
podes enfantizar as qualidades da poesia
que pensei mas sempre resisti em escrever.
Um dia, depois de ouvires os sinos da partida
e descobrires a cegueira dos meus olhos meigos
aplaude a minha falta de originalidade criativa
e enaltece a forma como lomelinizei a vida.  

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Escrevinhador (inédito)

Gastei o que de melhor havia em mim
a escrever alguns versos sem métrica
sem preocupações a nível de estética
sabendo que fazia outro poema ruim
 
Eu sei por que me desperdicei assim
de uma forma tão vil quanto frenética
sem arrufos de inspiração académica
nem co'a suavidade própria do cetim
 
Sou somente um mero escrevinhador
que se serve da poesia quando quer
deste crime atroz m'acuso e confesso
 
Contudo, dela, também sou devedor
p'lo que já me deu e p'lo que me der
e eu, em retorno, nada mais lhe peço

sábado, 5 de janeiro de 2013

Sonetos imperfeitos (inédito)

Sem tentar explicar porque escrevo
mas não perdendo a oportunidade
é a expressão da minha liberdade
e dizer mais que isto não me atrevo

Escrever assim, sei que posso e devo
sempre fiz e farei à minha vontade
podem dizer que lhes falta qualidade
e que a poesia assim perde relevo

Aos puristas minhas desculpas peço
metricamente meus versos não meço
estes poemas estão cheios de defeitos

Mas um leitor, desconhecedor e leigo
que a criticar é mais gentil e meigo
dirá que são só sonetos imperfeitos

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Mulheres (inédito)

Mulheres que na vida conheci
e atravessaram o meu caminho
por todas sinto eterno carinho
por conhecê-las... eu enriqueci
 
Mulheres que jamais esqueci
e nunca me deixaram sozinho
por algumas tive um fraquinho
mas por todas... amor eu senti
 
Mulheres que geraram o mundo
fontes de amor, vida e criação
convosco fica meu pensamento
 
Sou vosso admirador profundo
adoro-vos no extremo da paixão
na pureza deste nobre sentimento

 

 

 

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Meu mundo (inédito)


Neste meu mundo calmo e sereno
onde o limite é por mim imposto
sei que passo dar, conheço o terreno
construo a minha vida a meu gosto
 
Neste meu mundo que é pequeno
fico firme sem sair do meu posto
desfruto do que tenho, em pleno
e mantenho limpo este meu rosto
 
Sou um ser de vontades e desejo
ocupo o meu lugar... o meu espaço
a vida que tenho jamais a renego
 
Tudo o que agora quero ou almejo
é sentir de ti aquele quente abraço
e dizer bem alto: "A ti me entrego!"